
Muito do mérito do filme está na escolha dos atores, tivesse o diretor Kiko Goifman escolhido outros menos hábeis poderia cair no ridículo. Mas, tanto Jean-Claude Bernardet quanto João Miguel se exploram em cena. Beirando o Teatro do Absurdo, Eric e Élvio respectivamente brigam, quase de matam e depois se exibem para o estranho objeto que surge no meio da sala deles.

O fato é que, com o surgimento do periscópio, o mistério se instala e as brigas cessam. Ambos começam a se exibir para a "coisa", construindo simulações de felicidade que vão desde uma simples dança, passando por peça com direito a cortina e tudo, até um banquete extravagante em uma espécie de ceia de Natal com peru e pratos doces e salgados diversos.

Curioso também o texto escrito pelo próprio diretor em parceria com Jean-Claude Bernardet. Pensamentos e frases que ficam no ar, sem terminar o raciocínio. Jogos de palavras, inclusive com frases ditas em inglês por João Miguel quando Élvio discute com o peixe Jack. Há uma discussão muito boa entre os dois logo no início onde cada um fala sem parar e sem ouvir o outro, criando uma angústia crescente.
Periscópio é, então, uma experiência exótica, que traz muitos elementos, uns mais outros menos trabalhados. Mas, é um jogo que nos envolve pelo sensorial e pela curiosidade do inusitado. Tudo fica meio no ar, mas também nem tudo precisa de explicação nessa vida.
Periscópio (Periscópio, 2012 / Brasil)
Direção: Kiko Goifman
Roteiro: Kiko Goifman e Jean-Claude Bernardet
Com: Jean-Claude Bernardet, João Miguel
Duração: 86 min.