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Caça-Fantasmas
Caça-Fantasmas
Os Caça-Fantasmas é um ícone dos anos 80. Mexer com a franquia é mexer com a memória afetiva de muita gente. Talvez por isso o anúncio de uma nova trupe, agora em versão feminina tenha irritado tanta gente. Machismo, dirão alguns, e não estarão errados, principalmente pelos comentários que acompanhamos. Mas, o fato é que a grande questão desse filme não é passar o bastão dos homens para as mulheres, mas tentar fingir que o restante não aconteceu. Ainda assim, é um filme competente e bastante divertido.
Tudo bem que o segundo filme podia ficar esquecido mesmo, acho que ninguém reclamaria. Mas tivemos o primeiro filme que é um ícone de gerações e séries de desenhos. Construir um filme onde os caça-fantasmas nunca existiram e vamos acompanhar tudo de novo, não deixa de ser estranho. Principalmente, porque muito do roteiro do filme é construído como um remake em sua estrutura básica de plots. Temos uma cena emblemática mostrando que fantasmas existem naquele universo, cientistas desacreditados, início dos trabalhos, mais dificuldades para provar a verdade, mais trabalho, um grande evento e um grande confronto na cidade.
Agora, apesar de querer fingir que nada aconteceu, ele fica o tempo todo tentando fisgar a memória afetiva dos fãs. Seja com referências à obra antiga, aparições de atores em situações diversas ou mesmo em elementos semelhantes. Então, o filme fica no meio do caminho, é um remake, mas não é. É um reboot, mas não é. É uma continuação, mas não é. E apesar de tudo isso, o mais incrível é que o filme funciona como um entretenimento sem maiores compromissos, sendo divertido e envolvente.
A maior vantagem em relação ao primeiro é a técnica. Os efeitos especiais são bem feitos e as cenas de ação correm mais soltas, com fantasmas se divertindo por Nova York em cenas engraçadas ou assustadoras. Até o 3D contribui para a narrativa, principalmente quando quer nos dar algum susto ou para uma estratégia recorrente de gag com a personagem de Kristen Wiig.
Outro ponto positivo é o elenco. Ainda que Kate McKinnon não esteja na sua performance mais feliz, os demais compensam. Antes que os fãs de Saturday Night Live reclamem, não acredito que seja problema da atriz, mas o texto da sua personagem parece extremamente forçado em diversos momentos. De todas, ela é a maior caricatura. Já a química entre Melissa McCarthy e Kristen Wiig funciona muito bem, nos dando momentos de diversão, tensão e emoção equilibrados. E Leslie Jones consegue se destacar, assumindo o protagonismo de muitas cenas.
Entre novidades e referências acabou sendo bom que elas não fossem simples versões femininas dos caça-fantasmas antigos. Há características de cada um deles nelas, mas nenhum se encaixa completamente na trama. Da mesma forma que Chris Hemsworth não é uma versão masculina de Janine. Talvez sua função na trama seja um pouco de mistura dela e de Dana Barrett (Sigourney Weaver). Mas, sem dúvidas, o que se destaca é sua burrice exagerada que faz graça, mas poderia ser um pouco mais leve.
Talvez o maior incômodo do roteiro desse novo Caça-Fantasmas é a existência de um vilão e seu plano maquiavélico, algo que já foi ruim no filme de 1989 (que eu já tinha dito que a gente podia esquecer) e que não existia no de 1984. No primeiro, eram fenômenos sobrenaturais e um vilão também sobrenatural com as coisas acontecendo naturalmente. Esse estereótipo de vilão exagerado de filme B, nunca funciona completamente. Até por isso, há um momento no filme que o roteiro parece desandar, mas depois consegue retomar o prumo.
No final das contas é isso. Caça-Fantasmas é um filme divertido. A gente dá risada, se envolve nas cenas e torce para as personagens. Não são os nossos amigos de infância, e por vezes é frustrante perceber isso. Mas, elas conseguem nos convencer que são legais e que merecem entrar para o hall das aventuras cinematográficas.
Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 2016/ EUA)
Direção: Paul Feig
Roteiro: Katie Dippold, Paul Feig
Com: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones, Kate McKinnon, Chris Hemsworth
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Caça-Fantasmas
2016-07-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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