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Paulo Cesar Toledo
Waiting for B.
Waiting for B.
Esperando Beyoncé, é exatamente isso que um grupo de fãs está fazendo durante toda a projeção do documentário Waiting for B., que mostra, além do fanatismo pela cantora, a curiosa relação que surgem entre eles ao acamparem por dois meses na porta do estádio do Morumbi.
Uma loucura, poderão pensar alguns. E não deixa de ser mesmo. Todo esse sacrifício é para pegar o melhor lugar na frente da grade e tentar uma troca de olhares que seja com a estrela no palco. Pode parecer pouco, mas para quem é fã é muito, vide o choro deles ao conseguir uma foto com pessoas da equipe.
Estar próximo ao ídolo é o que deseja todo fã. Eles cantam, dançam, fazem sacrifícios financeiros, brigam com familiares, vivem essa ilusão que parece a eles a coisa mais importante do mundo. Tem até um rapaz que diz ter vendido um apartamento para acompanhar a turnê por todo o Brasil.
Mas o melhor do documentário é não ficar apenas nessa relação de fã e sacrifícios, mas buscar entender essas pessoas que se dispõem a ficar dois meses de vigília. O que fazem da vida, a relação que surgem entre eles durante o acampamento, as regras de convivência que criam. Inclusive, é importante ressaltar que eles não ficam todos lá esse tempo inteiro, há um revezamento que os permitem continuar a vida, como trabalho ou passar em casa.
Nessas poucas cenas de passagens nas casas de alguns deles, vemos a relação com a família. Em um deles, é possível perceber um visível incômodo de uma mãe e um irmão. A mãe tenta conversar com o rapaz, ignorando a câmera, mas dá algumas olhadas desconfiadas para ela. Já o irmão, simplesmente sai da sala, irritado. Já em outra casa, a mãe parece mais natural e até ajuda a filha.
O que fica claro é a origem humilde da maioria deles, suas dificuldades diárias, a questão financeira que deixa todos os sacrifícios por um show e um ídolo ainda mais complexos. O fato de serem homossexuais ainda traz um viés a mais para o incômodo familiar, como um garoto que diz que a mãe pediu ao tio policial que batesse nele "pra ver se ele aprendia".
Um paralelo extremamente pertinente acaba acontecendo em uma noite de jogo do São Paulo no estádio. Os jovens ficam todos acuados, observando a torcida chegando, os gritos de guerra, as provocações com o time adversário, temendo algum confronto direto. Mas o que o filme acaba nos mostrando é que esse fanatismo pelo futebol e por um time acaba sendo mais compreendido e aceito pela sociedade que a dos jovens homossexuais e pobres que estão ali por Beyoncé. Por que é permitindo fazer loucuras por um time e não por uma cantora? Fica a reflexão, principalmente quando um torcedor interpela eles perguntando sobre que dia é o show e porque estão tão cedo ali.
No final, Waiting for B. é um estudo curioso sobre jovens, relações humanas e também sonhos e cultura de fãs. E o fato de nunca mostrar Beyoncé em tela acaba criando também uma curiosidade e uma aura ainda mais encantada para a artista. Muitos, provavelmente, saem da sessão querendo ouvi-la para sentir um pouco dessa energia.
Waiting for B. (Waiting for B., 2017 / Brasil)
Direção: Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel
Roteiro: Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel
Duração: 91 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Waiting for B.
2017-03-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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