Meu Malvado Favorito 3
Um dos problemas de um grande sucesso é a dúvida entre apostar no que já está dando certo e arriscar mudanças. Uma continuação de um filme é sempre algo delicado que fica entre a comparação e a sensação de mais do mesmo que o obriga a ter que ser muito melhor que o anterior. No caso da franquia Meu Malvado Favorito a situação é ainda mais complicada, porque nunca existiu um grande filme de fato. Apenas bons personagens, situações criativas e os Minions conquistando franquias e vendendo bonequinhos.
Meu Malvado Favorito 3 chega às telas ainda com uma questão complicada, o desgaste da imagem dessas criaturinhas amarelas divertidas, mas que provaram não ter fôlego para um filme solo. Vê-los em tela traz algumas gags legais, mas nada parece mais tão criativo ou engraçado quanto antes. Tanto que a participação deles acaba muito mais tímida aqui que no segundo filme. Nem mesmo os tradicionais clipes são explorados.
Resta, então, os dilemas de Gru e sua família, que aqui está ampliada. Ele casou com a agente Lucy e descobriu que tem um irmão gêmeo. Isso gera novas peripécias que acabam deixando pouco espaço para a relação do ex-malvado com as três filhas, algo que sempre rendia bons momentos. O que acaba sendo mais explorado aqui é a aproximação de Lucy com as meninas, o que também traz boas situações, agora com a atrapalhada mãe. Ainda assim, as crianças tem seus pontos altos, destaque apenas para a saga de Agnes em busca do seu unicórnio.
Talvez pelo fato de, aqui, Gru estar definitivamente do lado dos mocinhos, o filme acaba trazendo pela primeira vez um vilão interessante. Caricato, como os demais, mas com alguns elementos divertidos como o fato de ser um ex-astro da televisão, magoado com Hollywood, com referências diversas aos anos 80. Balthazar Bratt, ou como era conhecido na TV, EvilBratt, diverte exatamente pelo exagero, seja do chiclete arma-secreta, pelas danças de clássicos como Bad ou mesmo pelos bonequinhos voadores.
Já a dinâmica entre Gru e seu irmão Dru parece meio frouxa. Criado por seu pai, sendo um homem rico e mimado, ele sonha em ser vilão, querendo a orientação de seu irmão. Porém, o fato de Gru ter mudado de lado abre espaço para o conflito que nunca se concretiza de fato. Acaba sendo uma premissa desperdiçada que poderia ser melhor explorada.
De qualquer maneira, Meu Malvado Favorito 3 mantem o ritmo da aventura com comédia que entretêm e diverte as crianças. Pelo desgaste da fórmula e falta de renovação das ideias, no entanto, cansa um pouco mais os adultos, nem mesmo a estratégia de brincar com a nostalgia dos anos 80 ou a crítica à televisão e a Hollywood conseguem tornar a experiência mais interessante.
A sensação que fica é que a Illumination deveria saber o momento de parar com a franquia ou buscar novos caminhos. Porque a premissa de um malvado que amolece o coração foi boa, mas acabou. Ele já é bonzinho. Perdeu o motor. Até os Minions brincam com isso, comparando o antes e o depois. E mesmo eles já não parecem ter nada de novo a nos oferecer. Melhor seria ficar na lembrança mesmo e partir para outra coisa.
Meu Malvado Favorito 3 (Despicable Me 3, 2017 / EUA)
Direção: Pierre Coffin, Kyle Balda, Eric Guillon
Roteiro: Cinco Paul, Ken Daurio
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meu Malvado Favorito 3
2017-06-29T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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