
Um futuro distópico onde as pessoas são vigiadas por câmeras e tem suas informações controladas. Isso poderia ser a sinopse de do clássico "1984", de George Orwell. O Círculo bebe na fonte dele, como também de "O Show de Truman". Mas, na realidade, traz algo muito próximo do seriado Black Mirror, já que o futuro apresentado, não está tão distante assim.
Mae Holland, interpretada por Emma Watson, é uma jovem empolgada com a possibilidade de trabalhar na empresa "The Circle". Empenhada em ter o desempenho cada vez melhor, ela vai sendo consumida pelo trabalho, que não se resume ao serviço e atendimento ao cliente a que foi designada, mas também em compartilhar sua vida, convivendo com a comunidade.

Outro ponto está no excesso de trabalho. As pessoas parecem valorizar cada vez mais aqueles que viram noite, perdem fim de semana, deixam de ver a família para se dedicar a uma empresa. Cada vez mais estamos nos tornando workaholics sem nos dar conta do nível de stress que vivemos hoje. Uma sociedade que não para, onde o e-mail conectado ao celular nos faz responder questões a todos os momentos, sem pausas. Literalmente, vivemos para trabalhar ao não termos mais o limite entre o que é trabalho e o que é diversão, como postar algo nas redes sociais.
Mae Holland sintetiza isso. O que somos e o que nos tornamos com esse mundo digital em excesso. Claro, com alguns exageros, como quando ela aceita se tornar um experimento vivo da "transparência total". Porém, apesar de todos os elementos lançados em tela, o roteiro de James Ponsoldt, com ajuda do próprio Dave Eggers, não aprofunda nada. É como se tudo fosse uma grande apresentação e quando fosse, de fato, iniciar, termina. Fica uma amostra grátis do que poderia ser.

Ao final da projeção, a sensação é de que vimos uma apresentação de uma situação, mas não o desenvolvimento, muito menos a conclusão dela. Não que faltem elementos, mas, talvez, falte uma estrutura melhor da narrativa para que a apresentação seja mais sucinta e reste tempo para o desenvolvimento da ideia. Tempo para que o espectador possa refletir, assim como as personagens, que não parecem muito preocupadas em trabalhar melhor o que estão vivendo.
O Círculo é daqueles filmes que poderiam ter sido. Tem potencial, toca em um assunto atual e que merece nossa atenção e reflexão. Mas a sensação final é de frustração, como se víssemos apenas um rascunho do que poderia ter sido desenvolvido com a ideia.
O Círculo (The Circle, 2017 / EUA)
Direção: James Ponsoldt
Roteiro: James Ponsoldt, Dave Eggers
Com: Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Karen Gillan
Duração: 110 min.