
Após dois excelentes filmes, a saga do macaco Caesar chega a um final digno. A parte técnica de Planeta dos Macacos - A Guerra continua impressionante, ainda que o roteiro aqui não seja tão redondo quanto os demais. De qualquer maneira, é um bela trilogia que prepara o terreno para o universo que encontramos no filme clássico de Franklin J. Schaffner.
Talvez uma coisa que incomode na trama desse novo filme seja a modificação da personalidade de Caesar. Líder sensato que sempre ponderou pela paz e proteção de sua raça, ele parte agora para uma trajetória de vingança cega. Os motivos e mesmo a transformação são justificadas pelo roteiro, inclusive os momentos de consciência de que ele está se tornando mais parecido com Koba, o macaco que condenou no filme anterior. Porém, é, de alguma maneira, a desconstrução do mito e muitas de suas atitudes irritam pela falta de reflexão. E porque acaba quebrando a lógica de que os macacos são mais sensatos que os humanos.
Outro problema no roteiro, talvez seja as cenas extremamente expositivas. Temos pelo menos três momentos em que as personagens se reúnem para explicar a trama e os motivos de agirem dessa ou daquela maneira, sempre com um caráter didático desnecessário. Como quando Caesar prende alguns humanos e um macaco na mata. E vamos ser informados que esse macaco é um dos antigos seguidores de Koba e que está com os humanos com medo de represália. E também será explicada a estratégia de demonstrar misericórdia para ter como retorno a paz e mais algumas explicações em diálogos longos.

A Guerra também se constitui em uma reflexão constante sobre sobrevivência e evolução. Afinal, o que faz dos seres humanos os mais evoluídos no planeta é a capacidade de raciocinar. E esse raciocínio acabou os levando à destruição, o que não deixa de ser um paradoxo. Ao se deparar com outra raça inteligente, eles não conseguem co-existir, medindo pela força a permanência de apenas um deles, enquanto que os macacos nunca quiseram isso. Para os símios era possível dividir o planeta.
É curioso também que, mesmo construído como um vilão maniqueísta à primeira vista, o coronel interpretado por Woody Harrelson vai sendo aprofundado e também demonstrando coerência. O medo o rege e não a prepotência aparente. A maneira como os seres humanos vão perdendo sua humanidade, digamos assim, é a constatação assustadora que ele tenta evitar a todo custo. E não deixa de ser uma ironia dramática o seu embate com Caesar, o macaco de quem ele tirou quase tudo, mas que é capaz de vencê-lo em diversos níveis. Vide o confronto final dos dois.

A direção também merece destaque, seja nas cenas de batalhas, sempre bem orquestradas e dinâmicas, ou em cenas da jornada que tornam a obra quase um road movie em certo momento. Há drama psicológico, humor, suspense e melodrama tudo dentro do mesmo filme. E tudo colabora para essa dinâmica, desde a câmera, o ritmo da montagem até a trilha sonora. Belas cenas são construídas utilizando chuva e luz artificial, por exemplo. Aliás essa mistura de elementos da natureza misturados a elementos criados pelo homem interferindo na guerra é bastante simbólico.
Planeta dos Macacos - A Guerra pode não ser o melhor filme da nova trilogia, mas consegue ser um fechamento digno para esse belo resgate da Saga que tinha tido, até então, apenas o clássico de 1968 como obra-prima, já que suas continuações são apenas curiosas e o remake de Tim Burton merece ser apagado dessa história. Um filme para agradar a todos.
Planeta dos Macacos - A Guerra (War for the Planet of the Apes, 2017 / EUA)
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Mark Bomback, Matt Reeves
Com: Andy Serkis, Woody Harrelson, Karin Konoval, Steve Zahn, Amiah Miller
Duração: 140 min.