
Estranhamento. Essa é a sensação causada pela insistente voz de Milhem Cortaz, literalmente parando a narrativa de Tungstênio de tempos em tempos. Baseado no premiado quadrinho de Marcello Quintanilha, o novo filme de Heitor Dhalia fica no meio do caminho.
Adaptações de quadrinhos são sempre delicadas, principalmente se busca-se transportar para a tela grande o estilo próprio da obra original. Ritmo e enquadramentos acabam não combinando com o próprio estilo do diretor de filmes com Nina, O Cheiro do Ralo e À Deriva, resultado em uma obra instável.

O filme traz ainda a trama de Keira, interpretada por Samira Carvalho, esposa de Richard que busca coragem para largar o marido com quem vive um relacionamento conturbado de brigas, traições e sofrimento. De longe, a menos resolvida do roteiro, que parece construir um caminho e se perde durante a projeção sem dizer a que veio. A virada da personagem parece pouco crível depois de tudo que foi sendo desenvolvido nas cenas anteriores, o que deixa uma sensação ruim ao final.

A direção busca simetria com os quadrinhos trazendo alguns enquadramentos incômodos como o excesso de contra-plongées e big closes, além de uma montagem que muitas vezes quebra o eixo em busca da construção de uma confusão espacial para o espectador. Acaba soando over na tela grande, não conseguindo vender tão bem a estética que poderia ser melhor adaptada para o novo meio.
Ainda que estranho, Tungstênio acaba sendo uma experiência instigante quando acostumamos com a proposta e embarcamos na aventura. Um filme sem um grande propósito, mas com pequenos arcos que trazem algumas camadas. Há problemas, mas também méritos e geram curiosidade para o produto original, o que já é um grande mérito.
Tungstênio (Tungstênio, 2018 / Brasil)
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino, Fernando Bonassi, Marcello Quintanilha
Com: Fabrício Boliveira, Samira Carvalho, José Dumont, Wesley Guimarães
Duração: 80 min.