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Graças a Deus
Graças a Deus
Denúncias sobre pedofilia vem assombrando a Igreja Católica há anos, mas esse parece um tema que nunca se esgota. Em Graças a Deus, François Ozon mergulha em um caso real específico acontecido da cidade de Lyon para compreender melhor as consequências disso para as vítimas.
Com muitas narração e relatos, a trama vai se desenrolando a partir de uma carta de Alexandre Guérin à arquidiocese local, relatando os abusos sofridos por ele na infância. Bem sucedido, casado e aparentemente refeito dos traumas, ele acha importante a denúncia agora que o antigo agressor retorna à paróquia para cuidar da catequese de novas crianças.
Partindo de Guérin, uma verdadeira rede de denúncias se forma, demonstrando que um padre pedófilo não age apenas uma vez. Também demonstra a dificuldade de conseguir fazê-lo arcar com seus atos, mesmo quando ele não faz questão nem mesmo de esconder, confessa e se coloca na posição de vítima de instintos que não domina.
De maneira sóbria e respeitosa, sem cair no piegas ou na exploração gratuita de sentimentos, Ozon vai conduzindo os diversos pontos de vista das vítimas e as consequências do trauma em suas vidas atuais. A economia dramática também é feliz em dar o espaço para cada um protagonizar o seu momento, ao mesmo tempo em que se constrói essa rede que demonstra a dimensão do caso.
O tempo da obra também busca construir um ritmo mais lento, em compasso de espera mesmo. Traduzindo a própria sensação das vítimas que se veem sempre esperando a resolução de uma igreja que, ao mesmo tempo que admite o erro, fecha-se, querendo esconder os problemas. A postura do cardeal de o tempo todo admitir ser esse um ato extremamente condenável, ao mesmo tempo em que se recusa a afastar o padre, soa angustiante.
Ao mesmo tempo, não há uma espetacularização dessa dor. Não há excessos na trilha sonora buscando uma catarse ou mesmo uma ampliação do efeito de angústia. Assim como não há muitos planos próximos, closes para focar nas emoções das personagens. Tudo parece sóbrio e cuidadoso, nos colocando como observadores oniscientes, mas sem interferir na cena.
Não por acaso, a própria Igreja tentou impedir a obra de ser exibida. Graças a Deus revela faces que, de alguma forma, a opinião pública já sabia. Mas ver em tela de maneira tão didática e explícita os bastidores de uma caso como esses, é mesmo assustador.
Filme Visto no Festival Varilux 2019.
Graças a Deus (Grâce à Dieu, 2019 / França)
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Com: Melvil Poupaud, Denis Ménochet, Swann Arlaud
Duração: 137 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Graças a Deus
2019-07-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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