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Terror marca presença no Cine Pe

Cine Pe 2019

O terror brasileiro tem se consolidado a cada ano. São diversos filmes, estilos e cineastas que ganham espaço e tornam o gênero uma instigante alternativa no país, inclusive para posicionamentos políticos e expressões culturais. É bom ver que eles vão ganhando cada vez mais espaço também nos festivais de cinema pelo país. A noite do dia 01 de agosto no Cine Pe foi praticamente deles, mesmo os dois curtas que não tinham relação direta com o gênero flertavam com o fantástico, o que os fez dialogar com as diversas camadas ali existentes.

Coleção, único curta da competitiva pernambucana da noite, trouxe um suspense clássico com apenas uma locação e uma construção de efeitos bastante eficiente através de um fenômeno sobrenatural de um rapaz que ao restaurar uma foto dos arquivos do avô acaba despertando uma estranha vingança.

Dirigido por André Pinto e Henrique Spencer, o filme, na verdade, faz parte de um projeto maior de uma série antológica inspirada em The Twilight Zone. Há nele todos os dispositivos de um suspense, como efeitos sonoros, planos detalhes e um trabalho de fora de campo que nos ajuda a embarcar naquela estranha história. É possível, inclusive, irritar-se com as atitudes impensadas do protagonista que parece fazer de tudo para se complicar cada vez mais. Algo que no filme goiano Guará, integrante da competitiva nacional, é ironizado.

Dirigido por Fabrício Cordeiro, a obra flerta com o terror trash, mesclando horror com comédia e aumentando o tom da obra para que fique exagerado mesmo. Ao vermos as vítimas correndo na direção da ameaça ou simplesmente ficando paradas, esperando serem atacadas, gera um misto de irritação e riso forçado diante do ridículo da situação. A construção em paralelo do diálogo entre dois policiais, uma mulher e um homem, também ajuda nessa construção nonsense que mescla efeitos de horror e cômico.

Transformar um lobo-guará em um lobisomem que ataca a todos na cidade é trash e o filme não se furta a abraçar a linguagem, inclusive expondo o ridículo do homem vestido de lobo nos planos inteiros e geral, em contraste com os planos detalhes onde a direção de arte e maquiagem capricham na busca pelo sangue e veracidade. Há também um plano sequência final que chama a atenção pela força e catarse que nos faz comprar aquela estranha ideia.

Já o curta Casa Cheia do pernambucano Carlos Nigro, que também está na competitiva nacional, trouxe um suspense mais denso. Sem a comédia do Guará, nem os pequenos alívios do Coleção que ainda flerta com o irônico e tem algumas cenas de respiro como a ambientação inicial. O filme já mergulha na angústia da menina asmática que acorda algumas vezes sem ar de um pesadelo cíclico que vai se intensificando de uma maneira instigante. Não há explicação, a própria narrativa é construída a partir de sensações que nos fazem imergir naquele estranho ambiente.

Toda essa variedade vista nos três curtas, reforça que o Brasil tem condições de dialogar com as diversas possibilidades do terror. É uma pena que ainda seja um gênero que sofra tanto preconceito. Esperamos que filmes assim possam surgir em maior quantidade, variedade e qualidade.

Os demais curtas da noite, foram o mockumentary de Victorhugo Passabon Amorim, Vinnilis Frutiferis, que traz uma estranha comunidade que convive com árvores de vinil que emanam música ao toque do beija flor. Uma experiência, no mínimo, curiosa. E a delicada animação Só sei que foi assim de Giovanna Muzel, que fala sobre amizade, escolhas de vida e pesos que carregamos conosco.

Foto: Felipe Souto Maior

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