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Luciana Souza
Inabitável
Inabitável
O argumento do curta-metragem de Matheus Farias e Enock Carvalho é simples, uma mãe procura por sua filha desaparecida. Sua filha Roberta é uma mulher trans, mas isso não é explicitado em nenhum momento na obra. É na sutileza que é passada a mensagem já conhecida do preconceito e dos riscos que essas pessoas correm em especial no Brasil que é o país que mata transgêneros no mundo.
Luciana Souza constrói com muita sensibilidade essa mãe desesperada por notícias. Não por acaso levou o Kikito de melhor atriz. Tentando reconstruir os passos da filha, procura amigos, hospital, polícia, mas nada parece indicar qualquer pista. Há um silêncio generalizado, como se, de alguma maneira, todos soubessem que aquela busca seria em vão. Construímos um laço com aquela mulher, compramos o drama dela e vamos juntos em busca do paradeiro de Roberta.
Inabitável fala da sensação de não pertencimento. Tanto de uma alma que habita um corpo com o qual não se identifica, quanto de pessoas que parecem não se encaixar em um mundo ainda tão transfóbico.
A direção é hábil em demonstrar isso em pequenos gestos e símbolos, como a funcionária que pega o documento e demonstra ter entendido que a pessoa sumida é trans a partir da mudança de expressão. Ou pela tatuagem da filha que a mãe desconhecia. Uma borboleta, como informa a amiga.A simbologia da borboleta, por sinal, é poética e pode transparecer o sentimento daquelas pessoas. Afinal, nascem lagartas, sentem-se presas e finalmente se permitem uma transmutação ganhando mais brilho e beleza, ao estar em um corpo com o qual se identificam.
Chama a atenção também a maneira como o curta, que trazia uma estética bastante realista, começa a flertar com o fantástico a partir do surgimento de um estranho objeto que parece um reator que liga sozinho por vezes. Uma espécie de chave que surge como esperança possível daquele drama. Já que nesse mundo, a tragédia parece inevitável. Diante de um tema tão relevante e denso, Inabitável consegue nos atingir de maneira sensível, criativa e com a força de suas personagens. Um belo curta que levou o prêmio da crítica, melhor atriz para Luciana Souza e melhor roteiro.
Filme visto no 48º Festival de Cinema de Gramado
Inabitável (2020) – PE
Direção: Matheus Farias e Enock Carvalho (19 min.)
Roteirista: Matheus Farias, Enock Carvalho
Elenco: Luciana Souza, Sophia Williams, Erlene Melo
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Inabitável
2020-09-28T11:21:00-03:00
Amanda Aouad
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