Tempo. Maturação, espera, lembranças, saudade. A Metamorfose dos Pássaros, acima de tudo, é isso. Através de memórias de sua própria família, a cineasta Catarina Vasconcelos constrói um drama lírico onde imagens e palavras vão se desenhando e, um ritmo próprio que resignificam símbolos e nos dão uma imersão ímpar aquela história.
A Metamorfose dos Pássaros
Tempo. Maturação, espera, lembranças, saudade. A Metamorfose dos Pássaros, acima de tudo, é isso. Através de memórias de sua própria família, a cineasta Catarina Vasconcelos constrói um drama lírico onde imagens e palavras vão se desenhando e, um ritmo próprio que resignificam símbolos e nos dão uma imersão ímpar aquela história.
Somos embalados pelas vozes over que narram e dialogam entre si. Primeiro ele, Joaquim. Depois ela, Beatriz. E depois seus filhos. Ilustram essas narrativas, imagens como a vista de alto mar, um quadro na parede, um jardim, detalhes de corpos e objetos.
Há pouca dramaturgia em cena. A estrutura poética nos leva mesmo à forma lírica e também ao épico em sua narrativa constante. Isso nos faz refletir e ao mesmo tempo encantar. Ainda que fale de dor, saudade, morte, a trama também fala de amor, de lembranças, de momentos felizes.
No fundo, o que A Metamorfose dos Pássaros nos apresenta é a vida. E tudo que faz aporte dela. A partir de uma situação particular, mas que reverbera na universalidade. Porque traz sensações e sentimentos que nos são familiares de uma forma ou de outra. Conseguimos compreender o que se passa com cada personagem.
A metáfora dos pássaros também traz poesia. Remete a capacidade de voar, desbravar caminhos. Um código em forma de conselho que a mãe tinha com os filhos. E que também pode nos fazer refletir sobre a necessidade de criar asas e não ficar dependente da proteção parental.
A maneira como a escolha das imagens não são apenas ilustrações da narração, mas ajuda a ressignificá-las, é outro ponto positivo da obra. Há um cuidado intencional em cada escolha, acrescenta informações que as falas não dão conta. E por vezes até mesmo a contrata. Nesse ponto a montagem é peça fundamental para a construção do efeito.
A Metamorfose dos Pássaros é uma busca. Um resgate familiar. Uma lembrança saudosa. Mas acima de tudo, uma celebração da vida, com todas as suas imperfeições. Não esqueçamos que somos pássaros. Estamos aqui para voar independente das intempéries do vento.
A Metamorfose dos Pássaros (Portugal, 2020)
Direção: Catarina Vasconcelos
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Metamorfose dos Pássaros
2020-10-19T09:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|Festival|OlhardeCinema2020|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais lidos do site
-
Há algo de estranho em revisitar Moonwalker , aquela colagem de videoclipes de 1988 em que Michael Jackson parece ter tentado traduzir seu ...
-
Rafiki me envolve como uma lufada de ar fresco. Uma história de amor adolescente que rompe o silêncio com coragem e delicadeza. Desde os pr...
-
Assistindo a Timbuktu (2014), de Abderrahmane Sissako , encontrei um filme que, logo na abertura, revela sua dicotomia: a beleza quase hip...
-
Assisti Wallay com a sensação de que o que vemos na tela é ao mesmo tempo familiar e invisível: uma história de choque cultural, sim, mas f...
-
Desde a primeira imagem de Carandiru (2003), a prisão-prédio-personagem sussurra histórias comprimidas, como corpos na cela superlotada. Al...
-
Logo nas primeiras cenas de Atlantique , somos levados ao universo de Dakar , onde os operários empobrecidos deixam de receber seus salários...
-
Fitzcarraldo (1982) é uma obra que supera qualquer limite do cinema convencional, mergulhando o espectador em uma narrativa tão grandiosa q...
-
Em Alexandria (Ágora), Alejandro Amenábar empreende um mergulho ambicioso no século IV, colocando no centro uma figura rara: Hipátia , pol...
-
Revisitar Matilda (1996) hoje é como redescobrir um filme que fala com sinceridade com o espectador, com respeito e sem piedade cínica. A ...
-
Poucos filmes conseguem atravessar a barreira do drama para se tornar confissão. O Lutador (The Wrestler, 2008), de Darren Aronofsky , é u...




