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The Invisible Vegan

The Invisible Vegan - documentário - filme

A pandemia tem servido para nos fazer refletir sobre o mundo e nossas ações em diversos aspectos. O documentário
The Invisible Vegan demonstra que a alimentação é uma das mais importantes dentre elas, porque envolve, de alguma maneira, todos os demais. 

Dividido em dez capítulos, o filme dirigido por Jasmine Leyva e Kenny Leyva utiliza da estratégia já visto em outras obras, como Dieta de Gladiadores (The Game Changers), de demonstrar que a alimentação vegana é boa para a saúde, mas vai além, abordando diversos aspectos que fazem do veganismo não apenas uma dieta, mas uma atitude política, ativista em prol do meio ambiente e de combate ao capitalismo. Acima de tudo, o que The Invisible Vegan traz de novo é o viés étnico, demonstrando que ser vegano também pode ser uma atitude antirracista. 

Dirigida por duas mulheres negras, tendo, como personagens, pessoas negras, a obra começa questionando exatamente o estereótipo da comida afrodescendente. Tópico delicado, ainda mais aqui no Brasil, onde o alimento tem muita relação com os rituais das religiões de matriz africana, o documentário questiona a chamada soul food, padrão alimentar originário do sul dos Estados Unidos com influência africana, como algo padrão da raça, quando foi um costume quase imposto pelo sistema de colonização e escravidão, hoje reforçado pelo interesse de grandes indústrias. 

A falta de referências de pessoas negras veganas também dá a sensação de que esta seria uma cultura de pessoas brancas, quando, na verdade, existem muitos negros veganos, inclusive artistas, personalidades e chefs de cozinha, a exemplo da Chef Babette, que Jasmine Leya diz ter sido uma alegria quando a descobriu. A obra traz, inclusive a pequena Genesis Butler, que ficou conhecida ao enviar uma carta ao Papa Francisco pedindo para que ele deixasse de comer carne em troca de um milhão de dólares. E ainda apelou para que o pontífice fizesse isso ao menos na quaresma.

The Invisible Vegan - documentário - filme
A necessidade de reconhecimento de pessoas veganas negras é também uma forma de confirmar que não se está “traindo” a raça, como ela explicou. Reforçando a força do estereótipo e racismo incrustados na sociedade. É curioso como o documentário desconstrói também o argumento de que ser vegano é caro. Jasmine demonstra ser uma falácia, afinal, tal qual qualquer outra dieta alimentar, existem opções para todos os padrões e bolsos. Uma família carnista pode comer apenas carne de segunda ou filé mignon a depender de sua capacidade financeira, por exemplo. 

O documentário traz uma linguagem estética padrão participativa onde os depoimentos vão construindo o discurso e estratégia de convencimento do espectador. Em determinado momento, no entanto, ele se vale de um dispositivo de colocar três pessoas em uma degustação com uma chefe vegana, para quebrar mais um argumento de que esse tipo de comida seria sem graça. A própria Jasmine fala em determinado momento sobre os temperos que dão gosto a carne, todos de origem vegetal. Comida também é prazer, é inegável, mas é possível ter prazer comendo pratos veganos bem feitos, é o que a chef demonstra a um incrédulo rapaz a cada prato que experimenta. 

The Invisible Vegan - documentário - filme
A maioria dos documentários veganos, no início, apelava para a denúncia sobre os maus tratos com os animais. Depois surgiram alguns buscando reforçar a atitude ativista em prol do meio ambiente e contra o consumo desenfreado. Aos poucos começam a surgir obras que trazem os benefícios da dieta para a saúde, inclusive pro apetite sexual e estética corporal. The Insivible Vegan traz tudo isso e vai além, relacionando todos os tópicos também à questão do racismo e a invisibilidade de veganos negros. 

Apesar de querer abarcar tudo, não se torna superficial, é simples e traz informações de maneira clara, que, apesar da linguagem tradicional, possui um ritmo bom com uma montagem ágil e envolvente. Destaque ainda para o rap de Stic of Dead Prez que compõe os créditos da obra, com mensagens também veganas, demonstrando que tem espaço em todos os setores da cultura negra para refletir sobre alimentação, meio ambiente e visões de mundo que vão além do estabelecido. 

Não se pode dizer que o documentário convence a todos a se tornar vegano, mas, pelo menos, bons argumentos ele traz em todos os aspectos possíveis. Fica o convite a reflexão.

P.S. O filme não tem distribuição no Brasil ainda, mas é possível alugar ou comprar o acesso através do Vimeo da própria diretora. 

The Invisible Vegan (2019, EUA)
Direção: Jasmine Leyva, Kenny Leyva
Duração: 84 min.

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