Obi-Wan Kenobi - A nostalgia impera?
Após o episódio III - A Vingança dos Sith, George Lucas disse que não faria mais filmes da Saga Star Wars, pois esta era sobre a jornada de Anakin Skywalker e ela tinha terminado com os seis filmes lançados. Por isso, quando saiu a notícia da compra do universo pela Disney, a expectativa entre os fãs era do que viria a partir de agora. É curioso perceber que ainda que a nova trilogia tenha feito sucesso, a grande aposta seja mesmo explorar o hiato deixado entre o terceiro e quarto episódios.
O universo expandido sempre existiu por iniciativa dos fãs e George Lucas foi inteligente ao incentivar essa imaginação, pois ajudou a construir o fandom (comunidade de fãs que, em tradução literal, seria reino dos fãs). A Disney desconsiderou todo esse material e buscou controlar essa expansão com obras diversas, explorando a nostalgia dos fãs e trazendo curiosidades como a expedição do filme Rogue One, a história de Han Solo em um filme próprio ou as séries das guerras clônicas e Mandalorian. Porém, a série de Obi-Wan traz algo de diferente e isso chama a atenção para o potencial que ainda existe nesse universo.
Para começar, a fronteira entre cinema e televisão parecem não mais existir nessa nova obra. O resumo antes do primeiro episódio é um compilado dos três filmes que antecedem a história. E durante a narrativa existem flashbacks com cenas dos filmes que dialogam diretamente com o roteiro. Isso chama a atenção porque mesmo no universo da Marvel não há uma mistura tão forte entre as obras das duas mídias como vemos aqui.
Outra coisa que chama a atenção é a própria presença do astro Ewan McGregor. Antes, uma estrela de Hollywood dificilmente faria televisão. Ele não é o primeiro, claro, mas é um reforço de que as séries não são mais uma escada para que atores e atrizes consigam fazer cinema.
Por fim, temos Darth Vader. E este acaba sendo o maior trunfo da série, provando que George Lucas estava certo. Há uma nostalgia na aura desse vilão que povoou a infância de tantas gerações. Ao mesmo tempo em que há ainda algo de Anakin ali. Vemos nesta série a ponte que faltava entre aquele garoto sonhador e a máquina do episódio quatro - Uma Nova Esperança. É como se nós, assim como Obi-Wan, precisássemos desse encontro para compreender de fato o que aconteceu.
As cenas de Darth Vader são impactantes, inclusive na exploração da vilania. Mais até do que na trilogia original. E isto só é possível com a utilização do flashback da invasão ao templo Jedi e o massacre dos pequenos padawans no terceiro filme. O espectador não precisa ter visto os filmes para compreender a série, mas chama a atenção como o roteiro dela se apropria da história pregressa para construir sua própria curva, nos possibilitando catarses melhores que com a experiência fílmica. É como se, ao juntar as duas narrativas, as peças se encaixassem melhor, ampliando a compreensão e emoção.
Isso não quer dizer que a série seja perfeita. Paradoxalmente, é discutível, inclusive, a necessidade de sua existência. Em especial pela duração, já que a trama da série em si é frágil e soa repetitiva. O incidente do sequestro de Leia a coloca na mesma situação do episódio 4, nos fazendo perguntar se não existiriam outras tramas possíveis. Vale mais por nos aproximar um pouco mais da infância dessa princesa guerreira e compreender como foi sua relação com os pais adotivos e o que a levou a ser a líder da rebelião que encontramos no episódio 4.
Ainda assim, existem camadas na série que a fazem ser instigante e envolvente. Não é apenas a nostalgia de retornar àquele universo e àqueles personagens. Não é apenas o prazer de conhecer mais sobre Leia ou rever Darth Vader em sua forma clássica. Nem mesmo pelo vislumbre do pequeno Luke, que quase não aparece em cena. Há uma ampliação do universo ali e um diálogo muito bom com o cinema. Só por isso, a série já vale a pena. Resta saber se eles serão capazes de ir além, construindo conflitos e tramas que realmente se sustentem por elas próprias.
Obi-Wan Kenobi (2022, EUA)
Direção: Deborah Chow
Roteiro: Joby Harold, Hossein Amini, Stuart Beattie, Hannah Friedman, Andrew Stanton
Com: Ewan McGregor, Moses Ingram, Viven Lyra Blair, Ruper Friend, Joel Edgerton, Jimmy Smits, Simone Kessell
Primeira Temporada: 6 episódios.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Obi-Wan Kenobi - A nostalgia impera?
2022-08-02T14:29:00-03:00
Amanda Aouad
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