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Do que as mulheres gostam
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Do Que as Mulheres Gostam é um filme que tenta caminhar pela corda bamba entre a comédia, o romance e o drama, mas acaba tropeçando em clichês e estereótipos que enfraquecem uma premissa interessante. Dirigido por Nancy Meyers, que já trouxe outras comédias românticas leves e bem-sucedidas, o filme estreou em 2000 com uma proposta original: o que aconteceria se um homem machista pudesse ouvir os pensamentos das mulheres?
A trama gira em torno de Nick Marshall, interpretado por Mel Gibson, um publicitário de sucesso em Chicago, cuja carreira e vida pessoal são regidas por um chauvinismo purista. Nick é um mulherengo nato, criado em Las Vegas por uma mãe corista, o que o filme tenta utilizar como uma justificativa para seu comportamento problemático. Após um acidente doméstico bizarro, Nick adquire a habilidade de ouvir os pensamentos das mulheres ao seu redor. Esse dom inicialmente é usado de maneira egoísta e oportunista, com Nick se aproveitando das ideias de sua nova chefe, Darcy McGuire, para ganhar vantagem no trabalho.
Mel Gibson, conhecido por sua versatilidade em papéis tanto dramáticos quanto cômicos, entrega uma performance que oscila entre o carismático e o exagerado. Sua interpretação de Nick é, por vezes, caricatural, com expressões faciais e reações exageradas que acabam por reduzir a complexidade do personagem. Gibson parece mais confortável nas cenas cômicas, onde seu timing para o humor e sua presença de palco brilham, especialmente nas interações com Helen Hunt e Marisa Tomei. Contudo, a transformação de Nick de um machista insensível para um homem mais compreensivo parece forçada, deixando uma sensação de que o personagem não evolui de maneira orgânica.
Helen Hunt, vencedora do Oscar, interpreta Darcy McGuire, a nova chefe de Nick e seu eventual interesse romântico. Hunt, uma atriz talentosa com um currículo impressionante, não consegue mostrar todo seu potencial neste papel. A falta de química entre ela e Gibson é palpável, o que prejudica a credibilidade do romance central. Darcy é retratada como a típica mulher forte e independente, mas sua caracterização cai nos mesmos estereótipos que o filme tenta criticar: a mulher determinada, mas delicada e romântica, presa a um roteiro que não lhe oferece muito espaço para desenvolvimento.
A direção de Nancy Meyers, conhecida por suas comédias românticas que abordam questões de gênero e relacionamento, aqui parece hesitante e dependente demais do carisma de Gibson. Meyers tenta equilibrar a comédia com elementos dramáticos e românticos, mas o resultado é uma narrativa desigual e, muitas vezes, previsível. O filme usa truques visuais e musicais desgastados, como cenas de Gibson interagindo com a câmera ao som de uma trilha sonora "engraçadinha", que acabam por parecer datadas e ineficazes.
Apesar de suas falhas, Do Que as Mulheres Gostam tem alguns bons momentos. Uma dessas cenas é a sequência em que Nick, utilizando seu novo poder, seduz a garçonete interpretada por Marisa Tomei. Tomei, que também é vencedora do Oscar, brilha em suas poucas cenas, trazendo uma autenticidade que falta ao resto do filme. Sua personagem é uma das poucas que parece ter uma vida interior rica e verdadeira, contrastando com os personagens mais rasos e unidimensionais.
O filme poderia ter sido uma sátira afiada sobre as relações de poder entre homens e mulheres no ambiente de trabalho, mas opta por um caminho seguro e previsível. A tentativa de explorar a guerra dos sexos e as dinâmicas de gênero é tratada de maneira superficial, sem a profundidade ou a crítica necessária para realmente impactar o público. As personagens femininas são frequentemente retratadas de maneira estereotipada e simplista, como a filha adolescente de Nick, cujo maior desejo é perder a virgindade, ou a colega de trabalho que só pensa no próximo compromisso no cabeleireiro.
Do Que as Mulheres Gostam também sofre com um roteiro repleto de clichês e situações previsíveis. A trama segue uma fórmula batida: o anti-herói que, após um evento transformador, aprende a ser uma pessoa melhor. A transformação de Nick, no entanto, nos parece mais uma obrigação de roteiro do que uma evolução natural do personagem, o que compromete a autenticidade da história. Em termos de aspectos técnicos, a cinematografia e fotografia do filme são funcionais, sem grandes destaques. A trilha sonora, composta por Alan Silvestri, é agradável, servindo mais como um pano de fundo do que como um elemento que adiciona profundidade à narrativa.
Do Que as Mulheres Gostam é uma comédia romântica que promete mais do que entrega. Com performances medianas, uma direção insegura e um roteiro cheio de clichês, o filme se perde em suas próprias ambições. Ele pode ter seus momentos divertidos, mas falha em se estabelecer como uma obra memorável no gênero. É uma produção que, apesar de tentar captar o espírito da época, acaba parecendo mais uma relíquia de um tempo passado – uma Sessão da Tarde esquecível que poderia ter sido muito mais. Para aqueles que esperam uma exploração mais profunda e crítica das dinâmicas de gênero, este filme deixa a desejar. Mas foi bom ter revisto. Fiquei feliz em perceber como minhas percepções mudaram.
Do Que as Mulheres Gostam (What Women Want, 2000 / EUA)
Direção: Nancy Meyers
Roteiro: Josh Goldsmith, Cathy Yuspa
Com: Mel Gibson, Helen Hunt, Marisa Tomei
Duração: 127 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Do que as mulheres gostam
2024-07-10T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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