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Deus é Brasileiro
Deus é Brasileiro
Deus é Brasileiro, dirigido por Cacá Diegues, é uma comédia que parte de uma premissa inusitada: o Todo-Poderoso, interpretado por Antônio Fagundes, decide tirar férias e precisa encontrar um substituto à altura para cuidar de suas responsabilidades. Baseado no conto O Santo Que Não Acreditava em Deus de João Ubaldo Ribeiro, o filme mistura humor e crítica social, oferecendo uma visão única e bem-humorada da divindade.
Desde o início, o filme estabelece seu tom cômico através da interação entre Deus e Taoca, vivido brilhantemente por Wagner Moura. Taoca é um personagem astuto e engraçado, que traz à mente figuras icônicas do cinema brasileiro, como João Grilo de O Auto da Compadecida. Moura rouba a cena em diversos momentos, com um timing cômico impecável e diálogos afiados que muitas vezes eclipsam o personagem de Fagundes.
Antônio Fagundes, por sua vez, escolhe interpretar Deus com uma rabugice que pode surpreender aqueles que esperavam um personagem mais carismático e benevolente. Essa escolha, embora ousada, acaba por tornar o Todo-Poderoso um tanto antipático, uma decisão que pode destoar. Sua falta de senso de humor é um contraste interessante com o personagem de Taoca, mas que nem sempre funciona na dinâmica da comédia.
A direção de Cacá Diegues é segura, mas carece do vigor presente em seus trabalhos anteriores, como Bye Bye Brasil. Aqui, ele parece influenciado por um presente menos estimulante, resultando em um filme que, embora belo, carece de profundidade emocional. A fotografia de Affonso Beato é um dos pontos altos, capturando com maestria as paisagens do Nordeste brasileiro e contribuindo para a atmosfera encantadora do filme.
O roteiro, escrito a oito mãos, apresenta diálogos fracos e piadas óbvias, além de buracos inexplicáveis na trama. Por exemplo, a cena em que uma recém-casada se recusa a dançar com Deus é deixada sem explicação, um exemplo de como o filme falha em desenvolver certas subtramas. A interação entre Deus e Madá, interpretada por Paloma Duarte, também é subutilizada, deixando a impressão de que havia mais a ser explorado nessa relação.
Apesar dessas falhas, Deus é Brasileiro possui momentos de genuína beleza e humor. A cena em que Taoca e sua namorada vagam pelo mar numa canoa, ao som de Djavan cantando Villa-Lobos, é uma das mais poéticas e memoráveis do filme. Esses momentos, embora esparsos, mostram o potencial do filme e a habilidade de Diegues em criar imagens marcantes.
No final, Deus é Brasileiro é uma farsa popular saborosa, mas que deixa a desejar em termos de profundidade e desenvolvimento de personagens. O filme tem seus méritos, especialmente nas atuações de Wagner Moura e na cinematografia de Affonso Beato, mas não consegue escapar de algumas armadilhas comuns. Ainda assim, é uma adição interessante ao cinema brasileiro e uma oportunidade de refletir sobre nossa visão do divino e da humanidade.
Ao assistir Deus é Brasileiro, fiquei dividido entre o encanto das paisagens e a frustração com as escolhas narrativas. É um filme que tenta muito, mas que nem sempre consegue atingir suas metas. Porém, ainda assim, terminei o filme com um sorriso, lembrando das boas risadas proporcionadas por Wagner Moura e das belas imagens do Nordeste brasileiro.
Deus é Brasileiro (2003 / Brasil)
Direção: Carlos Diegues
Roteiro: Carlos Diegues e João Emanuel Carneiro
Com: Antonio Fagundes, Paloma Duarte, Wagner Moura, Bruce Gomlevsky, Stepan Nercessian, Hugo Carvana, Castrinho
Duração: 110 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Deus é Brasileiro
2024-09-18T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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