Olhos Azuis
José Joffily tem se destacado como diretor nacional. Olhos Azuis é um filme instigante que une Estados Unidos e Brasil de uma maneira inteligente e bem realizada. A idéia de trabalhar uma história no departamento de Imigração e falar em xenofobia em um tom de denúncia é bastante feliz. Ficamos envolvidos com aquelas pessoas sentadas esperando serem liberadas e claro, há a identificação com o personagem de Irandhir Santos, o brasileiro que casou com uma americana e agora está tendo o seu visto posto em cheque.
A história gira em torno de Marshall, chefe de departamento de imigração do aeroporto JFK que está em seu último dia de trabalho. A aposentadoria é compulsória e ele não está muito feliz em ter que "pendurar as chuteiras". Irritado e bebendo muito durante o serviço, parece mais intolerante com os imigrantes do que qualquer um. Em paralelo aos acontecimentos na imigração, temos o mesmo Marshall na cadeia e, em outro momento, no Brasil à procura de uma menina que ele tem gravada em uma câmera de bolso. A junção dos três momentos temporais é óbvia, não chega a gerar um mistério em torno do que aconteceu, como foi em Estômago, a construção não-linear serve apenas para dar ritmo a trama e não ficar maçante.
Quando peguei esse filme tinha a expectativa de ver diálogos mais empolgantes durante o interrogatório, tal qual ocorreu no filme Tempos de Paz, que aliás tem o mesmo mote. Um chefe da imigração em seu último dia de trabalho interrogando um imigrante para decidir se o deixa entrar em seu país. Mas, nem por isso, o ruim é ruim. A forma como ele demonstra a intolerância de Marshall e de sua funcionária é forte. Mas, ao mesmo tempo, é interessante perceber que eles têm razão em muitas coisas que falam. O que incomoda é a forma como tratam as pessoas. Todos sabem das tramas para entrar nos Estados Unidos e provavelmente aconteceu com Nonato, o personagem brasileiro, exatamente o que Marshall falou. Ele pagou e casou com uma americana para ter o visto. Mas, não há como provar e, se ele mora lá há dez anos, cabia ao inspetor apenas deixá-lo passar.
A forma como a montagem do filme foi feita nos leva a nos compadecer de Marshall em vez de ter raiva dele. As cenas no Brasil mostram um homem frágil, arrependido e dependente de uma garota de programa que o encontra nas ruas de Recife. Aliás, esse encontro é o único pecado do roteiro para facilitar a jornada de seu protagonista. Encontrar uma garota disposta a ajudá-lo, que sabe falar inglês fluente, dirige e ainda conhece bem o estado de Pernambuco é sorte demais. De qualquer forma, é uma história de redenção interessante.
A direção de José Joffily é segura e a forma como brasileiros, americanos e latinos se misturam no elenco é muito bem realizada. Os atores dão a carga dramática necessária, mas é Irandhir Santos mesmo quem se destaca. O brasileiro já demonstrou seu talento em todos os papéis que fez desde Besouro, passando por Quincas, Tropa 2 e até sua voz em Viajo porque preciso. Como Nonato, ele consegue nos envolver e emocionar no tempo certo. Arrisco dizer que estejamos diante do melhor ator surgido nos últimos tempos.
Vencedor de seis prêmios no Festival de Paulínia de 2009, Olhos Azuis é daqueles filmes que sempre irá nos instigar.
A história gira em torno de Marshall, chefe de departamento de imigração do aeroporto JFK que está em seu último dia de trabalho. A aposentadoria é compulsória e ele não está muito feliz em ter que "pendurar as chuteiras". Irritado e bebendo muito durante o serviço, parece mais intolerante com os imigrantes do que qualquer um. Em paralelo aos acontecimentos na imigração, temos o mesmo Marshall na cadeia e, em outro momento, no Brasil à procura de uma menina que ele tem gravada em uma câmera de bolso. A junção dos três momentos temporais é óbvia, não chega a gerar um mistério em torno do que aconteceu, como foi em Estômago, a construção não-linear serve apenas para dar ritmo a trama e não ficar maçante.
Quando peguei esse filme tinha a expectativa de ver diálogos mais empolgantes durante o interrogatório, tal qual ocorreu no filme Tempos de Paz, que aliás tem o mesmo mote. Um chefe da imigração em seu último dia de trabalho interrogando um imigrante para decidir se o deixa entrar em seu país. Mas, nem por isso, o ruim é ruim. A forma como ele demonstra a intolerância de Marshall e de sua funcionária é forte. Mas, ao mesmo tempo, é interessante perceber que eles têm razão em muitas coisas que falam. O que incomoda é a forma como tratam as pessoas. Todos sabem das tramas para entrar nos Estados Unidos e provavelmente aconteceu com Nonato, o personagem brasileiro, exatamente o que Marshall falou. Ele pagou e casou com uma americana para ter o visto. Mas, não há como provar e, se ele mora lá há dez anos, cabia ao inspetor apenas deixá-lo passar.
A forma como a montagem do filme foi feita nos leva a nos compadecer de Marshall em vez de ter raiva dele. As cenas no Brasil mostram um homem frágil, arrependido e dependente de uma garota de programa que o encontra nas ruas de Recife. Aliás, esse encontro é o único pecado do roteiro para facilitar a jornada de seu protagonista. Encontrar uma garota disposta a ajudá-lo, que sabe falar inglês fluente, dirige e ainda conhece bem o estado de Pernambuco é sorte demais. De qualquer forma, é uma história de redenção interessante.
A direção de José Joffily é segura e a forma como brasileiros, americanos e latinos se misturam no elenco é muito bem realizada. Os atores dão a carga dramática necessária, mas é Irandhir Santos mesmo quem se destaca. O brasileiro já demonstrou seu talento em todos os papéis que fez desde Besouro, passando por Quincas, Tropa 2 e até sua voz em Viajo porque preciso. Como Nonato, ele consegue nos envolver e emocionar no tempo certo. Arrisco dizer que estejamos diante do melhor ator surgido nos últimos tempos.
Vencedor de seis prêmios no Festival de Paulínia de 2009, Olhos Azuis é daqueles filmes que sempre irá nos instigar.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Olhos Azuis
2010-12-27T08:29:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|drama|filme brasileiro|Irandhir Santos|
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