Grandes Cenas: Tempos Modernos
Primeiro de maio, dia do trabalho. A data surgiu por causa da grande manifestação ocorrida em Chicago em 1886, onde os trabalhadores fizeram manifestações em prol de melhores condições de trabalho, diminuição de jornada. Para homenagear o dia, vamos relembrar uma cena que traduz muito bem o sistema de trabalho. Aliás, todo o filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin é uma crítica à coisificação do homem desda a revolução industrial e sua substituição por máquinas. A cena da máquina de almoço mesmo é um exemplo ótimo deste absurdo. Mas, aqui temos uma simbologia extra. O homem como parte da engrenagem.
O talento de Chaplin é inquestionável e aqui ele brinca bastante com sua capacidade de se expressar com o corpo. Os trinta primeiros segundos, a câmera está quase parada, faz apenas um movimento panorâmico de correção para acompanhar a sequência de ações do personagem. O movimento que dita o ritmo da cena é o da máquina. A imagem é clara, três operários em processo serial, cada um fazendo parte da função para produzir mais rápido. A repetição do movimento que já tinha sido explorado no filme em várias cenas, está quase no limite. Ele faz a sua parte, mas ainda não é rápido o suficiente. Tem que acelerar para apertar o parafuso. Seus companheiros reclamam a falta de tempo, que prejudica a parte deles. O chefe aparece e faz pressão. Ele tem que acelerar a ação e por isso, "enlouquece". A própria cartela reforça isso.
Temos uma noção exata dessa loucura no corte seguinte, quando Chaplin é puxado pelo pé e continua apertando os parafusos. A câmera acompanha ele, primeiro em plano fechado, focando sua expressão, depois em um ponto de vista onde o buraco da máquina fica ao fundo, pois ali é que o personagem irá entrar, fundindo-se com a máquina. Aqui chega o ponto crucial da simbologia da imagem. O passeio é rápido, uma ida e vinda apenas, mas vale por mil palavras como diz o ditado. Charlie Chaplin passa pela engrenagem da máquina como parte dela. É a total absorção do homem por aquela ferramenta. Uma imagem que já passeou por vários especiais cinematográficos.
Ele sai de lá completamente confuso. Não consegue mais parar de repetir o movimento. Robotizou. Perdeu o juízo, o sentido. Claro que Chaplin se utiliza do humor nesse ponto. Com cortes rápidos mostra de vários ângulos os movimentos do personagem pelo cenário, sempre em busca do que apertar. A chegada da mulher com roupa cheia de botões é o clímax. Ele corre atrás dela que foge enlouquecida. É divertido ver aquela situação, torna a crítica mais leve. Chaplin sabe que não pode passar dos limites. Mas, ali está o exemplo vivo do que a revolução industrial fez ao ser humano e o quão cruel era o sistema de trabalho. Esse mesmo sistema que foi questionado em Chicago e logo ganhou as ruas mundiais. No Brasil, só conseguimos uma constituição com esses direitos em 1930. Antes tarde do que nunca. Fiquem com esta cena de Tempos Modernos. pena que a qualidade não está tão boa, mas dá para assistir.
O talento de Chaplin é inquestionável e aqui ele brinca bastante com sua capacidade de se expressar com o corpo. Os trinta primeiros segundos, a câmera está quase parada, faz apenas um movimento panorâmico de correção para acompanhar a sequência de ações do personagem. O movimento que dita o ritmo da cena é o da máquina. A imagem é clara, três operários em processo serial, cada um fazendo parte da função para produzir mais rápido. A repetição do movimento que já tinha sido explorado no filme em várias cenas, está quase no limite. Ele faz a sua parte, mas ainda não é rápido o suficiente. Tem que acelerar para apertar o parafuso. Seus companheiros reclamam a falta de tempo, que prejudica a parte deles. O chefe aparece e faz pressão. Ele tem que acelerar a ação e por isso, "enlouquece". A própria cartela reforça isso.
Temos uma noção exata dessa loucura no corte seguinte, quando Chaplin é puxado pelo pé e continua apertando os parafusos. A câmera acompanha ele, primeiro em plano fechado, focando sua expressão, depois em um ponto de vista onde o buraco da máquina fica ao fundo, pois ali é que o personagem irá entrar, fundindo-se com a máquina. Aqui chega o ponto crucial da simbologia da imagem. O passeio é rápido, uma ida e vinda apenas, mas vale por mil palavras como diz o ditado. Charlie Chaplin passa pela engrenagem da máquina como parte dela. É a total absorção do homem por aquela ferramenta. Uma imagem que já passeou por vários especiais cinematográficos.
Ele sai de lá completamente confuso. Não consegue mais parar de repetir o movimento. Robotizou. Perdeu o juízo, o sentido. Claro que Chaplin se utiliza do humor nesse ponto. Com cortes rápidos mostra de vários ângulos os movimentos do personagem pelo cenário, sempre em busca do que apertar. A chegada da mulher com roupa cheia de botões é o clímax. Ele corre atrás dela que foge enlouquecida. É divertido ver aquela situação, torna a crítica mais leve. Chaplin sabe que não pode passar dos limites. Mas, ali está o exemplo vivo do que a revolução industrial fez ao ser humano e o quão cruel era o sistema de trabalho. Esse mesmo sistema que foi questionado em Chicago e logo ganhou as ruas mundiais. No Brasil, só conseguimos uma constituição com esses direitos em 1930. Antes tarde do que nunca. Fiquem com esta cena de Tempos Modernos. pena que a qualidade não está tão boa, mas dá para assistir.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Tempos Modernos
2011-05-01T10:15:00-03:00
Amanda Aouad
Charlie Chaplin|grandes cenas|
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