Um gato em Paris
Em tempos de overdose de 3D nas telas é bom ver uma simples animação 2D francesa. Não que, com isso, seja pobre ou simplista, apesar de alguns traços infantis no roteiro. Um gato em Paris é um simpático filme policial para crianças, que diverte e apresenta nuanças, apesar de vários clichês do gênero. Pena que a cópia que chegou para o Festival Varilux veio apenas dublada e não tinha nenhuma criança para conferir a fita na sessão.
O gato do título é Dino, que durante o dia faz companhia para a garotinha Zoé, traumatizada com a morte de seu pai, que vive com a babá e a mãe delegada que nunca para em casa. E à noite ele acompanha o bandido Nico, um verdadeiro gatuno que passeia à noite pelos telhados de Paris assaltando casas, joalherias e bancos. A vida de todos ainda vai se cruzar com um grupo de gangsters que pretende fazer um grande assalto. O líder deles foi o responsável pela morte do pai de Zoé e está sendo caçado pela delegada há tempos. Graças a várias conjunturas ligadas ao gato Dino, Zoé e o grupo vão acabar parando na casa de Nico, dando à história muito mais ação.
O traço do desenho é interessante. Sem se preocupar muito com a perspectiva, já que vemos o chão muitas vezes misturado à parede, valoriza muito a agilidade nas cena dos telhados. Ali acontecem as principais cenas do filme. É envolvente. Interessante perceber também o contraste de cores, principalmente no início. As cenas na casa da garotinha Zoé abusa do colorido, nas roupas, nos móveis, nas roupas de cama. Já na casa de Nico ou nas aventuras noturnas tudo é mais escuro, com predominância dos tons de azul e preto. Há ainda uma solução gráfica muito boa em uma cena de black out total. Era preciso mostrar ao espectador o que acontecia, mas deixar na penumbra, ficaria irreal.
Aliás, as soluções visuais são sempre mais interessantes que os diálogos, que em geral possuem uma linguagem bem simples. A forma como o gato se movimenta é muito boa. Principalmente a forma como acompanha o bandido. O sentimento dele pela menina também é bem representado, vide a cena em que chega pela manhã e se aninha em seu colo na cama. Ou quando a garotinha se esconde em um canto do quarto abraçada ao bichinho, demonstrando ser o único que está ao lado dela. Em contrapartida, a personagem da mãe é caricata, seu sentimento parece forçado. Se fosse live action, era possível dizer que era uma má atriz. Mas, não é apenas a voz ou expressões do desenho, tudo nela soa estranho. Já os bandidos, por sua vez, são bastante clichês e maniqueístas.
Mas, apesar dos problemas, sobra espaço para referências e boas ironias, principalmente na parte final do filme. Há ainda uma boa pista e recompensa no roteiro dessa trama ligada a um determinado perfume. Detalhes que demonstram que o roteiro, apesar de ter um tratamento bastante infantil, não é raso. Tornando Um gato em Paris uma boa diversão para todos.
Um gato em Paris (Une Vie de Chat : 2010 / Bélgica, França, Holanda, Suíça)
Direção: Jean-Loup Felicioli, Alain Gagnol
Roteiro: Alain Gagnol, com diálogos de Jacques-Rémy Girerd e Alain Gagnol
Duração: 70 min
O gato do título é Dino, que durante o dia faz companhia para a garotinha Zoé, traumatizada com a morte de seu pai, que vive com a babá e a mãe delegada que nunca para em casa. E à noite ele acompanha o bandido Nico, um verdadeiro gatuno que passeia à noite pelos telhados de Paris assaltando casas, joalherias e bancos. A vida de todos ainda vai se cruzar com um grupo de gangsters que pretende fazer um grande assalto. O líder deles foi o responsável pela morte do pai de Zoé e está sendo caçado pela delegada há tempos. Graças a várias conjunturas ligadas ao gato Dino, Zoé e o grupo vão acabar parando na casa de Nico, dando à história muito mais ação.
O traço do desenho é interessante. Sem se preocupar muito com a perspectiva, já que vemos o chão muitas vezes misturado à parede, valoriza muito a agilidade nas cena dos telhados. Ali acontecem as principais cenas do filme. É envolvente. Interessante perceber também o contraste de cores, principalmente no início. As cenas na casa da garotinha Zoé abusa do colorido, nas roupas, nos móveis, nas roupas de cama. Já na casa de Nico ou nas aventuras noturnas tudo é mais escuro, com predominância dos tons de azul e preto. Há ainda uma solução gráfica muito boa em uma cena de black out total. Era preciso mostrar ao espectador o que acontecia, mas deixar na penumbra, ficaria irreal.
Aliás, as soluções visuais são sempre mais interessantes que os diálogos, que em geral possuem uma linguagem bem simples. A forma como o gato se movimenta é muito boa. Principalmente a forma como acompanha o bandido. O sentimento dele pela menina também é bem representado, vide a cena em que chega pela manhã e se aninha em seu colo na cama. Ou quando a garotinha se esconde em um canto do quarto abraçada ao bichinho, demonstrando ser o único que está ao lado dela. Em contrapartida, a personagem da mãe é caricata, seu sentimento parece forçado. Se fosse live action, era possível dizer que era uma má atriz. Mas, não é apenas a voz ou expressões do desenho, tudo nela soa estranho. Já os bandidos, por sua vez, são bastante clichês e maniqueístas.
Mas, apesar dos problemas, sobra espaço para referências e boas ironias, principalmente na parte final do filme. Há ainda uma boa pista e recompensa no roteiro dessa trama ligada a um determinado perfume. Detalhes que demonstram que o roteiro, apesar de ter um tratamento bastante infantil, não é raso. Tornando Um gato em Paris uma boa diversão para todos.
Um gato em Paris (Une Vie de Chat : 2010 / Bélgica, França, Holanda, Suíça)
Direção: Jean-Loup Felicioli, Alain Gagnol
Roteiro: Alain Gagnol, com diálogos de Jacques-Rémy Girerd e Alain Gagnol
Duração: 70 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um gato em Paris
2011-06-25T09:11:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|cinema europeu|critica|infantil|oscar2012|
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