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Jogos Vorazes
Jogos Vorazes
Em 1949, George Orwell lançou seu livro 1984, sobre um futuro distante controlado por um governo totalitário, onde o personagem Winston Smith tentava sobreviver. O peculiar disso era o chamado Big Brother, entidade nunca vista pessoalmente, mas que seria o chefe maior daquela sociedade e controlava a todos através de câmeras ligadas 24 horas por dia espalhadas nas casas, nas ruas, nos estabelecimentos públicos. A idéia da vigília deu origem aos nossos conhecidos reality shows que invadem nossas telas todos os anos. Pegando este conceito e unindo aos antigos circos romanos com lutas de gladiadores ou cristão vs leões, Suzanne Collins criou sua trilogia Jogos Vorazes, que chega agora aos cinemas prometendo ser a nova febre adolescente.
No livro e filme, estamos também em um futuro distante, após uma grande guerra, onde uma sociedade saiu vitoriosa e controla hoje doze distritos divididos em funções bastante definidas. Todo ano, para lembrar a guerra e a traição de seus antepassados, os distritos precisam enviar um casal de jovens entre 12 e 18 anos como tributo. Esses vinte e quatro jovens irão lutar até a morte, em um jogo cheio de perigos e com poucas regras, que passa na televisão para todos acompanharem e apenas um poderá voltar como vencedor. Nesse cenário está Katniss Everdeen, uma jovem do Distrito 12 que se oferece como tributo para salvar sua irmã menor que havia sido sorteada, e o jovem Peeta Mellark, mais maleável que ela, que logo tenta construir sua estratégia para agradar o público e os patrocinadores. Após o circo de apresentações, os Jogos Vorazes começam de fato e a sorte está lançada.
Não li os livros, não sei se é uma boa adaptação, mas o filme de Gary Ross gera a curiosidade para as páginas de Suzanne Collins, o que por si só já é um mérito. O filme também funciona por si só, apesar de algumas dúvidas em relação ao poder daquela cidade andrógina que controla os jogos ou a um determinado símbolo repetido pela protagonista e pelos moradores dos distritos de beijar os dedos e levantar a mão com apenas três deles estendidos. Ainda assim, é possível acompanhar a história e sair satisfeita com a aventura. Mas, este não entendimento completo do mundo ficcional acaba sendo uma falha no roteiro que dedica mais da metade de sua economia narrativa para explicá-lo. Ficamos tanto tempo na apresentação que em determinado momento fica a dúvida se veremos os jogos propriamente ditos naquele filme, ou se ele fica para os próximos. Afinal, é uma trilogia. A ansiedade acaba também sendo prejudicial, mas talvez remeta a ansiedade dos próprios protagonistas.
Protagonistas esses que, apesar de estarem prestes a enfrentar a morte, não são submetidos a uma carga dramática tão forte a ponto de exigir uma interpretação fenomenal dos atores Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson, dois expoentes de Hollywood, ela em filmes como Inverno da Alma ou X-Men Primeira Classe, ele em filmes diversos com destaque para Ponte para Terabítia e Minhas Mães e Meu Pai. Ainda assim, ambos estão bem, além de possuir uma boa química juntos, nos gerando outro problema que é como resolver o conflito, já que apenas um poderá voltar vivo. As estratégias, seja da escritora, dos roteiristas ou do diretor, funcionam, nos envolvendo e deixando levar pela ação eletrizante que se torna o filme após o início dos jogos.
Neste ponto é preciso destacar a habilidade do diretor Gary Ross que nos apresenta desde o princípio uma câmera inquieta, com muitos movimentos feitos a mão e planos detalhes que nos dão uma mistura de suspense e aproximação com aquele universo estranho. Isso em contraste com a forma como vemos a Capital, sempre em planos abertos, com tomadas grandiosas e um estranhamento claro diante dos exageros das roupas e maquiagens exóticas daquelas pessoas que pagam para se divertir vendo jovens se degladiando em uma floresta inóspita. A fotografia também ajuda nessa construção, sendo mais lavada quando estamos no Distrito 12, mais vibrante na capital, com todas aquelas cores e escura na floresta que está quase sempre a noite. Isso sem falar no uso de câmeras subjetivas da protagonista Katniss Everdeen, dando uma dimensão exata de sua visão aflita nos momentos mais difíceis de sua jornada.
Então, superficialmente, temos uma preparação visualmente detalhada que não consegue nos dar a dimensão exata do universo do filme e da eletrizante jornada do programa em si que não nos dá tempo de pensar muito, apenas acompanhando os passos, as alianças, traições e oportunidades do jogo. Porém, Jogos Vorazes esconde, em suas camadas, diversas interpretações de nossa sociedade pão-e-circo. Reflexões que não são novas, é verdade, como o circo romano já citado ou o romance de George Orwell, mas que vem em um bom momento, com uma linguagem direcionada aos jovens, consumidores desses reality shows criticados aqui em metáforas bem ampliadas. Afinal, mesmo sem morte física, a luta selvagem dos jogos do filme não deixa de ser um reflexo do que acontece nas casas dos Big Brothers por exemplo. Até mesmo as alianças, os romances, as manipulações são representadas ali. Da mesma forma que o filme suscita reflexões sobre a liberdade, o processo de seleção do mundo profissional e os jogos de poder dos governantes mundiais.
Mas, essas camadas mais profundas são possíveis apenas ao final da sessão, em uma análise das atitudes dos protagonistas, porque durante a projeção, o filme não abre muito espaço para essas colocações ainda que tenham frases de efeito como "Se ninguém assistir, não haverá jogos" ou "Esperança é melhor que medo, mas é boa quando é contida". Há ali elementos para boas teses, discussões e aprofundamentos, só não estão à mostra, nem tão bem trabalhados quanto poderia, talvez por falta de tempo, ainda que Jogos Vorazes tenha mais de duas horas de projeção.
No final, fica uma aventura adolescente, com romance, vilões, mocinhos, aliados e desafios que crescem à medida em que se aproxima o final. Ainda, uma boa aventura. Um blockbuster digno para o público jovem que estava carente de tal produto após tentativas frustradas como Eu sou o número 4 ou Percy Jackson. Resta a nós, que ainda não lemos os livros, saber o que acontecerá nos próximos dois filmes que fecham a trilogia.
Jogos Vorazes (The Hunger Games: 2012 / EUA)
Director: Gary Ross
Writers: Gary Ross, Suzanne Collins
Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Wes Bentley, Elizabeth Banks.
Duração: 142 min.
No livro e filme, estamos também em um futuro distante, após uma grande guerra, onde uma sociedade saiu vitoriosa e controla hoje doze distritos divididos em funções bastante definidas. Todo ano, para lembrar a guerra e a traição de seus antepassados, os distritos precisam enviar um casal de jovens entre 12 e 18 anos como tributo. Esses vinte e quatro jovens irão lutar até a morte, em um jogo cheio de perigos e com poucas regras, que passa na televisão para todos acompanharem e apenas um poderá voltar como vencedor. Nesse cenário está Katniss Everdeen, uma jovem do Distrito 12 que se oferece como tributo para salvar sua irmã menor que havia sido sorteada, e o jovem Peeta Mellark, mais maleável que ela, que logo tenta construir sua estratégia para agradar o público e os patrocinadores. Após o circo de apresentações, os Jogos Vorazes começam de fato e a sorte está lançada.
Não li os livros, não sei se é uma boa adaptação, mas o filme de Gary Ross gera a curiosidade para as páginas de Suzanne Collins, o que por si só já é um mérito. O filme também funciona por si só, apesar de algumas dúvidas em relação ao poder daquela cidade andrógina que controla os jogos ou a um determinado símbolo repetido pela protagonista e pelos moradores dos distritos de beijar os dedos e levantar a mão com apenas três deles estendidos. Ainda assim, é possível acompanhar a história e sair satisfeita com a aventura. Mas, este não entendimento completo do mundo ficcional acaba sendo uma falha no roteiro que dedica mais da metade de sua economia narrativa para explicá-lo. Ficamos tanto tempo na apresentação que em determinado momento fica a dúvida se veremos os jogos propriamente ditos naquele filme, ou se ele fica para os próximos. Afinal, é uma trilogia. A ansiedade acaba também sendo prejudicial, mas talvez remeta a ansiedade dos próprios protagonistas.
Protagonistas esses que, apesar de estarem prestes a enfrentar a morte, não são submetidos a uma carga dramática tão forte a ponto de exigir uma interpretação fenomenal dos atores Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson, dois expoentes de Hollywood, ela em filmes como Inverno da Alma ou X-Men Primeira Classe, ele em filmes diversos com destaque para Ponte para Terabítia e Minhas Mães e Meu Pai. Ainda assim, ambos estão bem, além de possuir uma boa química juntos, nos gerando outro problema que é como resolver o conflito, já que apenas um poderá voltar vivo. As estratégias, seja da escritora, dos roteiristas ou do diretor, funcionam, nos envolvendo e deixando levar pela ação eletrizante que se torna o filme após o início dos jogos.
Neste ponto é preciso destacar a habilidade do diretor Gary Ross que nos apresenta desde o princípio uma câmera inquieta, com muitos movimentos feitos a mão e planos detalhes que nos dão uma mistura de suspense e aproximação com aquele universo estranho. Isso em contraste com a forma como vemos a Capital, sempre em planos abertos, com tomadas grandiosas e um estranhamento claro diante dos exageros das roupas e maquiagens exóticas daquelas pessoas que pagam para se divertir vendo jovens se degladiando em uma floresta inóspita. A fotografia também ajuda nessa construção, sendo mais lavada quando estamos no Distrito 12, mais vibrante na capital, com todas aquelas cores e escura na floresta que está quase sempre a noite. Isso sem falar no uso de câmeras subjetivas da protagonista Katniss Everdeen, dando uma dimensão exata de sua visão aflita nos momentos mais difíceis de sua jornada.
Então, superficialmente, temos uma preparação visualmente detalhada que não consegue nos dar a dimensão exata do universo do filme e da eletrizante jornada do programa em si que não nos dá tempo de pensar muito, apenas acompanhando os passos, as alianças, traições e oportunidades do jogo. Porém, Jogos Vorazes esconde, em suas camadas, diversas interpretações de nossa sociedade pão-e-circo. Reflexões que não são novas, é verdade, como o circo romano já citado ou o romance de George Orwell, mas que vem em um bom momento, com uma linguagem direcionada aos jovens, consumidores desses reality shows criticados aqui em metáforas bem ampliadas. Afinal, mesmo sem morte física, a luta selvagem dos jogos do filme não deixa de ser um reflexo do que acontece nas casas dos Big Brothers por exemplo. Até mesmo as alianças, os romances, as manipulações são representadas ali. Da mesma forma que o filme suscita reflexões sobre a liberdade, o processo de seleção do mundo profissional e os jogos de poder dos governantes mundiais.
Mas, essas camadas mais profundas são possíveis apenas ao final da sessão, em uma análise das atitudes dos protagonistas, porque durante a projeção, o filme não abre muito espaço para essas colocações ainda que tenham frases de efeito como "Se ninguém assistir, não haverá jogos" ou "Esperança é melhor que medo, mas é boa quando é contida". Há ali elementos para boas teses, discussões e aprofundamentos, só não estão à mostra, nem tão bem trabalhados quanto poderia, talvez por falta de tempo, ainda que Jogos Vorazes tenha mais de duas horas de projeção.
No final, fica uma aventura adolescente, com romance, vilões, mocinhos, aliados e desafios que crescem à medida em que se aproxima o final. Ainda, uma boa aventura. Um blockbuster digno para o público jovem que estava carente de tal produto após tentativas frustradas como Eu sou o número 4 ou Percy Jackson. Resta a nós, que ainda não lemos os livros, saber o que acontecerá nos próximos dois filmes que fecham a trilogia.
Jogos Vorazes (The Hunger Games: 2012 / EUA)
Director: Gary Ross
Writers: Gary Ross, Suzanne Collins
Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Wes Bentley, Elizabeth Banks.
Duração: 142 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jogos Vorazes
2012-03-24T08:23:00-03:00
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