À Espera de Turistas
Destaque no Festival de Cannes em 2007, À Espera de Turistas finalmente chega ao Brasil. O filme de Robert Thalheim é um singelo retrato da busca por seu lugar no mundo. Mais do que falar de holocausto, ele procura sentido no resgate do passado e na construção de um futuro que queremos para nós. Tudo isso de uma maneira muito sutil a partir de dois personagens bastante peculiares em uma cidade símbolo: Oswiecim (antiga Auschwitz).
O garoto alemão Sven Lehnert está em Oswiecim como voluntário e entre as suas funções está cuidar de Stanislaw Krzeminski, um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. Rabugento e autoritário, o velho senhor tira a paciência do jovem alemão. Para aliviar a dura rotina, Sven conta com a ajuda da jovem Ania, uma intérprete simpática, moradora local que sonha em se mudar dali e conhecer o mundo. Mas, aos poucos, Sven vai compreendendo melhor tudo o que acontece ali.
A cidade vive de um turismo histórico, mas parece que ninguém está realmente interessando em olhar para a tragédia que aconteceu ali. O campo de concentração, os locais reformados e até mesmo as lembranças e depoimentos de Krzeminski são apenas alegorias de uma rotina de desencargo de consciência. A trajetória de Sven em À Espera de Turistas é uma das mais belas reconstruções interior de um rapaz. O único que parece perceber todo aquele teatro e se encontrar verdadeiramente naquilo que quer.
A construção do personagem Stanislaw Krzeminski é outro destaque do filme. O ator Ryszard Ronczewski consegue nos passar toda a busca por ainda se sentir útil do personagem. Um homem com uma carga imensa, é verdade, afinal, ser um sobrevivente do holocausto não é para muitos. Em um dos seus depoimentos ele fala que, do grupo dele, apenas quatro sobreviveram. E ainda é preciso enfrentar o descaso, como na palestra para os estagiários da fábrica, com destaque para a cena da tatuagem. A forma como ele se agarra a ilusão de sua função naquela cidade é emocionante.
A direção de Robert Thalheim também é bastante feliz, com muita câmera na mão e uma fotografia crua, com muitas sombras e pouco tratamento. Nos traz para mais próximo daqueles personagens, daquela realidade, em um ritmo próprio da rotina dos seus protagonistas. Destaque para forma como constrói as passagens de tempo com as viagens de carro, ao som de Schubert, com muitas câmeras subjetivas do carro em movimento na estrada.
À Espera de Turistas é um belo retrato de um encontro de duas gerações, de dois mundos, e dois povos antes inimigos que se encontram em um local símbolo para repensar a vida. Repensar o papel de cada um e de todos naquele mundo e o que quer para si. E que nos dá uma bela lição.
À Espera de Turistas (Am Ende kommen Touristen, 2007 / Alemanha)
Direção: Robert Thalheim
Roteiro: Bernd Lange, Hans-Christian Schmid e Robert Thalheim
Com: Alexander Fehling, Ryszard Ronczewski, Barbara Wysocka e Piotr Rogucki
Duração: 85 min.
O garoto alemão Sven Lehnert está em Oswiecim como voluntário e entre as suas funções está cuidar de Stanislaw Krzeminski, um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. Rabugento e autoritário, o velho senhor tira a paciência do jovem alemão. Para aliviar a dura rotina, Sven conta com a ajuda da jovem Ania, uma intérprete simpática, moradora local que sonha em se mudar dali e conhecer o mundo. Mas, aos poucos, Sven vai compreendendo melhor tudo o que acontece ali.
A cidade vive de um turismo histórico, mas parece que ninguém está realmente interessando em olhar para a tragédia que aconteceu ali. O campo de concentração, os locais reformados e até mesmo as lembranças e depoimentos de Krzeminski são apenas alegorias de uma rotina de desencargo de consciência. A trajetória de Sven em À Espera de Turistas é uma das mais belas reconstruções interior de um rapaz. O único que parece perceber todo aquele teatro e se encontrar verdadeiramente naquilo que quer.
A construção do personagem Stanislaw Krzeminski é outro destaque do filme. O ator Ryszard Ronczewski consegue nos passar toda a busca por ainda se sentir útil do personagem. Um homem com uma carga imensa, é verdade, afinal, ser um sobrevivente do holocausto não é para muitos. Em um dos seus depoimentos ele fala que, do grupo dele, apenas quatro sobreviveram. E ainda é preciso enfrentar o descaso, como na palestra para os estagiários da fábrica, com destaque para a cena da tatuagem. A forma como ele se agarra a ilusão de sua função naquela cidade é emocionante.
A direção de Robert Thalheim também é bastante feliz, com muita câmera na mão e uma fotografia crua, com muitas sombras e pouco tratamento. Nos traz para mais próximo daqueles personagens, daquela realidade, em um ritmo próprio da rotina dos seus protagonistas. Destaque para forma como constrói as passagens de tempo com as viagens de carro, ao som de Schubert, com muitas câmeras subjetivas do carro em movimento na estrada.
À Espera de Turistas é um belo retrato de um encontro de duas gerações, de dois mundos, e dois povos antes inimigos que se encontram em um local símbolo para repensar a vida. Repensar o papel de cada um e de todos naquele mundo e o que quer para si. E que nos dá uma bela lição.
À Espera de Turistas (Am Ende kommen Touristen, 2007 / Alemanha)
Direção: Robert Thalheim
Roteiro: Bernd Lange, Hans-Christian Schmid e Robert Thalheim
Com: Alexander Fehling, Ryszard Ronczewski, Barbara Wysocka e Piotr Rogucki
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
À Espera de Turistas
2012-06-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|drama|Robert Thalheim|
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