
Quinzinho é o típico caipira, dono de uma pequena terra no interior distante do estado de São Paulo. Ele nunca esquece o tempo em que era criança e seu pai o levava para ver os filmes de Mazzaropi no cinema e fez uma promessa de que quando seu filho crescesse um pouco o levaria também. Como o garoto Neco tem nove anos, Quinzinho coloca as coisas em cima de seu burro Policarpo e parte com mulher e filho em busca de um cinema que ainda esteja funcionando, e mais difícil que isso, que passe um filme de Mazzaropi.

Em determinado momento, a busca por um cinema é interrompida por envolvimento com o MST (Movimento dos Sem Terra), polícia, sumiço de filho, violeiros e até o encontro com o demo em pessoa. Mas, o que parece ser um desvio de assunto é, na verdade, uma auto-afirmação da sertanejo, seu mundo, sua linguagem, seus "causos", tudo isso que Mazzaropi de certa forma representava em tela. Nesse jogo fílmico de mistura é que a jornada de Quinzinho se torna ainda mais interessante.

"Pra que caipira quer cinema?" Pergunta umas das pessoas por onde Quinzinho passa. Essa é uma das visões que instiga em Tapete Vermelho, na própria transformação no cenário de nossa época. As vezes é difícil assimilar que nas décadas de 40, 50 e 60 o cinema era algo tão popular em nosso país, lotando salas para ver filmes locais, com temas bens próximos das pessoas mais simples. Um cinema de qualidade das chanchadas da Atlântida, dos dramas de Anselmo Duarte e da simplicidade de Mazzaropi. Cinema de rua, próximo ao seu público e sem tanta cultura fast food dos grandes shoppings.

Na simplicidade do homem do campo, no retrato de sua vida humilde, em suas crenças, rituais e sonhos, Tapete Vermelho se utiliza do cinema. O verdadeiro homenageado através da figura de Amácio Mazzaropi é o próprio sertanejo, já quase esquecido no cinema nacional. Uma caricatura atual de algo ultrapassado e ridículo, mas que está na base de nossa cultura. Afinal, "a dor da saudade, quem é que não tem?"
Tapete Vermelho (Tapete Vermelho, 2005 / Brasil)
Direção: Luís Alberto Pereira
Roteiro: Luís Alberto Pereira e Rosa Nepomuceno
Com: Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres, Vinícius Miranda, Jackson Antunes, Paulo Betti, Rosi Campos, Cássia Kiss, Ailton Graça e Debora Duboc.
Duração: 100 min.