Colegas :: Filme | Cinema | Crítica :: CinePipocaCult

Colegas :: Filme | Cinema | Crítica :: CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo

CinePipocaCult : blog de cinema

recentes

Colegas

ColegasDivertido, despretensioso e com um prazer especial para cinéfilos e fãs de Raul Seixas. Assim é Colegas, filme de Marcelo Galvão sobre três jovens com síndrome de down que fogem do instituto onde vivem para realizar seus sonhos.

Stalone, Aninha e Márcio não são três jovens comuns. E não digo isso apenas por causa do cromossomo 21. Amigos inseparáveis e cinéfilos como poucos, os três jovens acalentam em suas almas, sonhos. Stalone quer ver o mar, Aninha quer casar com um cantor no dia de São Judas Tadeu e Márcio quer voar. Sonhos que estão intrinsecamente ligados com suas carências em relação a seus pais. Stalone em sua imaginação acredita que sua mãe está cuidando de um castelo em Atlântida, por isso o deixou no instituto. Aninha espera que seus pais a aceitem no dia em que ela estiver casada com um cantor. E Márcio acha que seus pais (que já morreram) estão construindo uma casa para eles no céu.

ColegasE com essas certezas e sonhos, eles partem uma noite do instituto. A inspiração inicial é o filme Telma e Louise, mas os três conhecem muito de cinema. Sabem de cor diversas falas de filmes e as citam em momentos mais divertidos. Temos referências à Sociedade dos Poetas Mortos, Titanic, 007, O Poderoso Chefão, Jerry Maguire, E O Vento Levou, Táxi Driver, Psicose, entre outros. E a forma como eles brincam com isso é sempre uma farra a parte. Com contexto, sem forçar as situações. Quer dizer, a citação a Psicose é completamente sem sentido, vai do nada a lugar nenhum, não cabe na cena, mas, ainda assim, a gente dá risada. E é através das citações dos meninos, que vamos simpatizando com cada um deles.

ColegasEsse é um ponto interessante de Colegas. Nunca tornar o portador de síndrome de down um coitado. Mesmo quando há um ligeiro estereótipo no interrogatório da polícia aos internos do instituto, tudo é conduzido de uma forma bem honesta e divertida. Os próprios colegas do trio fujão poderiam estar usando a visão que a sociedade tem deles para não responder de forma direta sobre o que aconteceu e qual o paradeiro dos sumidos, confundindo a polícia. Entre atrapalhações e sorte, os três também conseguem seguir viagem de uma maneira muito fácil, despistando os policiais que os perseguem.

Os policiais, no entanto, assim como o personagem de Leonardo Miggiorin são os detalhes mais desnecessários da trama. Flertam com um humor pastelão que não precisava. Nem vou me ater ao fato do português sem dedos, que é uma piada bastante lamentável. O filme já tinha um tom farsesco bem interessante, sempre brincando com o absurdo da situação. Vide o telejornal que é exibido em momentos diversos com os depoimentos mais estapafúrdios possíveis. Mas, é interessante como o agente Souza vivido por Deto Montenegro tem um certo arco de redenção, começando a perceber que estão perseguindo apenas crianças e não marginais como ele pensara no início.

ColegasUm dos pontos altos é a trilha sonora, repleta de músicas de Raul Seixas, ídolo dos meninos. O Maluco Beleza que buscou sempre uma alternativa ao sistema instalado, parece mesmo cair como uma luva nesse contexto. Uma voz libertária que nunca concordou com regras pré-estabelecidas e nunca aceitou limites impostos. Stalone, Aninha e Márcio são um pouco disso. Que não se limitam às suas condições, nem podam sua imaginação. Eles desejam e vão em busca da realização de seus sonhos. Como um conto de fadas, como o cinema. E talvez por isso, o roteiro não precise ser mais elaborado, com uma trama com sentido. Tudo segue o tom da imaginação.

Um road movie por estradas brasileiras que vai parar até em Buenos Aires, com um ritmo gostoso de acompanhar. Uma comédia, sem maiores pretensões. Marcelo Galvão não pretende discutir a Síndrome de Down, não cria juízo de valor em relação às atitudes anárquicas que seus personagens tomam, nem procura analisar consequências de atos insanos. É apenas para não perder a piada, em busca pela diversão. Mas, com um espírito livre e sonhador. Assim é Colegas. Um filme divertido. E muito mais divertido para cinéfilos. Quem perdeu foi Sean Penn que não veio e não pode conferir essa bela obra.



Colegas (Colegas, 2013 / Brasil)
Direção: Marcelo Galvão
Roteiro: Marcelo Galvão
Com: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Leonardo Miggiorin, Deto Montenegro, Lima Duarte
Duração: 103 min

Comentários (10)

Carregando... Logando...
  • Logado como
Que bom, Ilmara. É um filme divertido. bjs
Ah eu estou louca pra ver desde que soube das gravações do filme ... Vi uma resenha por ai que não era muito positiva sobre o filme... Mas como cada um tem uma opinião e modo de ver as coisas (ainda bem) , não "acreditei" muito no que li... Ao contrario da sua ... Ja estreiou por aqui, mas ainda não tive como ver ...
1 resposta · ativo 644 semanas atrás
É isso, Mila, é sempre bom ver o filme e tirar suas conclusões. É um filme divertido, gostoso de acompanhar. Pelo menos, eu achei.
Tenho lido avaliações distintas a respeito do filme. Mas tenho a tendência de concordar contigo. rsrs. É um feeling. Ainda não vi "Colegas", mas sua bela crítica desautoriza críticas viciadas e que desejam que o filme seja algo que ele não é - pelo menos nas palavras do Marcelo Galvão. Ainda vou conferir!
Bjs
1 resposta · ativo 644 semanas atrás
É um filme que tá bem dividido mesmo, Reinaldo. Mas, eu me diverti assistindo. Tomara que goste também.

bjs
Bem, como a gente tinha começado uma conversa pessoalmente, eu não fui com a cara do filme. De fato, não trata as pessoas com Down como coitados, mas no outro polo, superestima demais essas figuras como se elas pudesse fazer tudo. Daí que um trio de garotos armados e mascarados, assaltando os lugares por onde passam, parece ser algo super engraçado na história. Enganar os outros passa a ser cômico. Mas o maior problema é o filme usar a licença poética do "olhar ingênuo, fantasioso" para justificar as insanidades da trama e assim tirar a responsabilidade da coerência do roteiro, como uma desculpa para o "agora tudo é possível". Enfim, não duvido que o filme tenha um grande coração e boas intenções, além de querer mostrar um outro lado da capacidade de portadores da síndrome, mas como execução e defesa de sua narrativa, acho um filme totalmente falho.
1 resposta · ativo 644 semanas atrás
Entendo, Rafael, realmente é um filme que pode ser perigoso se levarmos a sério, pois, como eu disse, não procura analisar consequências de atos insanos. Mas, eu encarei como um conto fantasioso mesmo, um sonho dos meninos e embarquei.

Postar um novo comentário

Comments by

CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo Designed by Templateism.com Copyright © 2014

Tecnologia do Blogger.