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Vocês Ainda Não Viram Nada!
Vocês Ainda Não Viram Nada!
Vocês Ainda Não Viram Nada é mais que um filme. É uma experiência, uma experimentação que em sua metalinguagem testa os limites entre ficção e realidade, além das diversas possibilidades de interpretação no teatro e cinema. Uma mistura incrível que nos arrebata.
O filme traz um personagem fictício, o dramaturgo Antoine d’Anthac que teria acabado de falecer e, como último pedido, solicitou que seus antigos atores fossem à sua casa assistir a uma nova montagem de sua peça Eurídice. O texto, que é uma adaptação do mito de Orfeu, foi escrito na realidade por Jean Anouilh, falecido em 1987. Mas, o mais interessante da brincadeira de Alain Resnais é o fato de os atores que são convocados estarem interpretando a si mesmos e um pouco mais. Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli entre outros, vão se reconstruir em cena.
O filme já começa de uma maneira instigante, um jogo de cena com um telefonema informando aos convidados da morte do dramaturgo e do pedido. É uma boa forma de abrir o filme, nos ambientar e passar as informações necessárias. Além, claro, de apresentar os atores / personagens. Temos outros recursos no filme que instigam, como os intertítulos que dão um charmoso toque de suspense à projeção.
Após a explicação, a proposta de peça encenada pelo grupo Colombe começa. E a mágica se dá. Enquanto a projeção se desenvolve, os atores na plateia começam a recitar as falas. Primeiro de maneira tímida e, à medida que vão se envolvendo, se entregam aos papéis como se fossem eles mesmos reinterpretando aquele texto. E esse jogo é que torna tudo mais interessante. Vemos a visão dos atores na tela, e das versões anteriores na plateia. Em uma mistura que às vezes repete o mesmo texto, às vezes completa com a fala seguinte. E por vezes, tem até uma interação direta de tela e plateia.
A forma como a câmera busca cada uma das interpretações é muito boa. Às vezes, surpreendendo o próprio ator, que ainda não entrou na atuação. Outras vezes de susto, porque o ator falou lá no fundo. Ou ainda em conjunto com enquadramentos que nos mostre o que está acontecendo. Onde utiliza inclusive a divisão de tela para ampliar a apreciação e comparação. Em determinado momento em que Orfeu abre uma porta, por exemplo, é bem interessante ver essa porta no meio da tela e os dois atores a abrindo em sintonia.
A peça Eurídice que nos apresentam possui 4 atos. É interessante também que do primeiro para o segundo, haja um intervalo e possamos ver os atores desarmando, e comentando a situação. Do segundo para o terceiro em diante, não há esse intervalo. Pois, os atores já estão tão dentro de seus papéis que não se permitem mais ser plateia. São Orfeu, Eurídice, sua mãe, o pai, Mathias, etc. E é impressionante como, junto com eles, vamos também sendo arrebatados pela força do texto. Por aquele amor, pela necessidade de confiança. Pela brevidade e pelo sofrimento da vida.
Vocês Ainda Não Viram Nada não chega a cumprir a promessa do título. Afinal, já vimos jogos parecidos de brincadeira entre ficção e realidade, assim como o jogo da metalinguagem. O próprio diretor já brincou com isso em Hiroshima, mon amour. Mas, ainda assim, somos conquistados por uma obra muito bem realizada, com interpretações igualmente bem feitas e um texto forte que nos envolve. Isso demonstra que Alain Resnais é um diretor que ainda tem o frescor da sua juventude, querendo sempre desafiar o cinema e ir além. Quem sabe o título é uma promessa de que ainda possa vir algo mais por aí?
Vocês Ainda Não Viram Nada! (Vous n'avez encore rien vu, 2012 / França
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alain Resnais, Laurent Herbiet
Com: Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli, Denis Podalydès e Lambert Wilson
Duração: 115 min.
O filme traz um personagem fictício, o dramaturgo Antoine d’Anthac que teria acabado de falecer e, como último pedido, solicitou que seus antigos atores fossem à sua casa assistir a uma nova montagem de sua peça Eurídice. O texto, que é uma adaptação do mito de Orfeu, foi escrito na realidade por Jean Anouilh, falecido em 1987. Mas, o mais interessante da brincadeira de Alain Resnais é o fato de os atores que são convocados estarem interpretando a si mesmos e um pouco mais. Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli entre outros, vão se reconstruir em cena.
O filme já começa de uma maneira instigante, um jogo de cena com um telefonema informando aos convidados da morte do dramaturgo e do pedido. É uma boa forma de abrir o filme, nos ambientar e passar as informações necessárias. Além, claro, de apresentar os atores / personagens. Temos outros recursos no filme que instigam, como os intertítulos que dão um charmoso toque de suspense à projeção.
Após a explicação, a proposta de peça encenada pelo grupo Colombe começa. E a mágica se dá. Enquanto a projeção se desenvolve, os atores na plateia começam a recitar as falas. Primeiro de maneira tímida e, à medida que vão se envolvendo, se entregam aos papéis como se fossem eles mesmos reinterpretando aquele texto. E esse jogo é que torna tudo mais interessante. Vemos a visão dos atores na tela, e das versões anteriores na plateia. Em uma mistura que às vezes repete o mesmo texto, às vezes completa com a fala seguinte. E por vezes, tem até uma interação direta de tela e plateia.
A forma como a câmera busca cada uma das interpretações é muito boa. Às vezes, surpreendendo o próprio ator, que ainda não entrou na atuação. Outras vezes de susto, porque o ator falou lá no fundo. Ou ainda em conjunto com enquadramentos que nos mostre o que está acontecendo. Onde utiliza inclusive a divisão de tela para ampliar a apreciação e comparação. Em determinado momento em que Orfeu abre uma porta, por exemplo, é bem interessante ver essa porta no meio da tela e os dois atores a abrindo em sintonia.
A peça Eurídice que nos apresentam possui 4 atos. É interessante também que do primeiro para o segundo, haja um intervalo e possamos ver os atores desarmando, e comentando a situação. Do segundo para o terceiro em diante, não há esse intervalo. Pois, os atores já estão tão dentro de seus papéis que não se permitem mais ser plateia. São Orfeu, Eurídice, sua mãe, o pai, Mathias, etc. E é impressionante como, junto com eles, vamos também sendo arrebatados pela força do texto. Por aquele amor, pela necessidade de confiança. Pela brevidade e pelo sofrimento da vida.
Vocês Ainda Não Viram Nada não chega a cumprir a promessa do título. Afinal, já vimos jogos parecidos de brincadeira entre ficção e realidade, assim como o jogo da metalinguagem. O próprio diretor já brincou com isso em Hiroshima, mon amour. Mas, ainda assim, somos conquistados por uma obra muito bem realizada, com interpretações igualmente bem feitas e um texto forte que nos envolve. Isso demonstra que Alain Resnais é um diretor que ainda tem o frescor da sua juventude, querendo sempre desafiar o cinema e ir além. Quem sabe o título é uma promessa de que ainda possa vir algo mais por aí?
Vocês Ainda Não Viram Nada! (Vous n'avez encore rien vu, 2012 / França
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alain Resnais, Laurent Herbiet
Com: Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli, Denis Podalydès e Lambert Wilson
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Vocês Ainda Não Viram Nada!
2013-06-04T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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