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Anders Danielsen Lie
cinema europeu
drama
Hans Olav Brenner
Ingrid Olava
Joachim Trier
Oslo, 31 de agosto
Oslo, 31 de agosto
Inspirado no romance de Pierr Drieu, Le feu follet, Oslo, 31 de agosto é o segundo longa-metragem de Joachim Trier (parente distante de Lars Von Trier) que foi apresentado no Festival de Cannes de 2011. Apesar de ter participado do Festival do Rio de 2012, ainda não foi distribuído oficialmente no Brasil. Os soteropolitanos, no entanto, podem conferi-lo na Sala Walter da Silveira.
A trama traz um sensível retrato da depressão e dificuldades de um ex-viciado em drogas em se reestabelecer no mundo. Anders está em uma clínica de recuperação para adictos, quando tem a permissão de passar um dia fora, visitando um amigo, Thomas, e indo a uma entrevista de emprego. Na entrevista, uma pergunta o desconcerta e ele acaba confessando sua situação de ex-viciado. Com isso, sente que não tem mais chance à vaga e sai vagando pela cidade tentando encontrar um motivo para continuar sua tentativa de reintegração à sociedade.
Na verdade, Anders não tem essa consciência de busca. Ele apenas caminha, deixando o dia passar e tentando se compreender. Tenta também contato com sua namorada, com alguns amigos especiais e até mesmo se testa em uma festa regada a álcool. E é interessante como essa disputa interna vai reforçando sempre a inutilidade de tentar se reenquadrar. Como se inconscientemente ele buscasse reforçar a crença de que não presta para mais nada, que está marcado. Vide a reação do entrevistador que fica apenas desconcertado e, a princípio, não quer devolver o currículo.
Interessante também as simbologias buscadas por Joachim Trier em sua construção fílmica. Primeiro a data que inicia em 30 de agosto e termina em 31 de agosto, passando exatamente 24 horas de jornada. É o fim do outono na Noruega, o frio está se aproximando e com ele a melancolia do inverno. É como o estado de espírito de Anders que parece algo completamente auto-destrutivo, ao mesmo tempo em que clama por socorro. Não por acaso sua primeira cena é entrando em um rio com uma enorme pedra no colo. Ao mesmo tempo que parece querer se suicidar, escolhe uma forma impossível de isso acontecer.
Outra simbologia encontra-se na escolha da abertura do filme. Imagens quase estáticas das ruas de Oslo sendo conduzidas por uma narrativa intercalada de uma mulher e um homem falando que se recordam do dia 31 de agosto. Toda a montagem e construção da sequência nos remete diretamente a Hiroshima Meu Amor de Alain Resnais. Uma recordação de um romance que esconde a bomba atômica. Pensando no comparativo disso com a ebulição interna de Anders é bastante significativo.
Uma cena bastante simbólica também é a imediata após a frustrada entrevista de emprego. Anders está sentado em um café e fica ouvindo o seu entorno. Ficamos junto com ele ouvindo pedaços de conversas diversas, com seus pequenos problemas ou frustradas expectativas, sem nos aprofundar em nenhuma. É a sensação de não-pertencimento do mundo construída a partir da observação do outro. Anders não está ali de fato com ninguém. Está perdido em seu próprio problema, distante do outro. Mas começa a vislumbrar o entorno e perceber que não é apenas ele que os tem.
O roteiro vai nos guiando em um suspense quase tolo: conseguirá Anders resistir ao dia fora da clínica sem utilizar drogas? E é impressionante como a gente fica nessa expectativa, torcendo para que ele consiga, ao mesmo tempo em que as circunstâncias vão demonstrando que ele está preso a esse passado para sempre. Sem possibilidades de reconstruir seu próprio mundo. Um homem sem ilusões, sem perspectivas, sem esperanças. De fato, cansado.
Oslo, 31 de agosto é uma construção sensível de um estado depressivo. Mais do que isso, de um drama interno onde o maior antagonista é o próprio protagonista e suas crenças. Ou melhor, descrenças. Em seu segundo filme, Joachim Trier demonstra que o cinema está mesmo no sangue da família Trier.
Oslo, 31 de agosto (Oslo, 31. august, Noruega / 2011)
Direção: Joachim Trier
Roteiro: Joachim Trier e Eskil Vogt
Com: Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava
Duração: 95 min.
A trama traz um sensível retrato da depressão e dificuldades de um ex-viciado em drogas em se reestabelecer no mundo. Anders está em uma clínica de recuperação para adictos, quando tem a permissão de passar um dia fora, visitando um amigo, Thomas, e indo a uma entrevista de emprego. Na entrevista, uma pergunta o desconcerta e ele acaba confessando sua situação de ex-viciado. Com isso, sente que não tem mais chance à vaga e sai vagando pela cidade tentando encontrar um motivo para continuar sua tentativa de reintegração à sociedade.
Na verdade, Anders não tem essa consciência de busca. Ele apenas caminha, deixando o dia passar e tentando se compreender. Tenta também contato com sua namorada, com alguns amigos especiais e até mesmo se testa em uma festa regada a álcool. E é interessante como essa disputa interna vai reforçando sempre a inutilidade de tentar se reenquadrar. Como se inconscientemente ele buscasse reforçar a crença de que não presta para mais nada, que está marcado. Vide a reação do entrevistador que fica apenas desconcertado e, a princípio, não quer devolver o currículo.
Interessante também as simbologias buscadas por Joachim Trier em sua construção fílmica. Primeiro a data que inicia em 30 de agosto e termina em 31 de agosto, passando exatamente 24 horas de jornada. É o fim do outono na Noruega, o frio está se aproximando e com ele a melancolia do inverno. É como o estado de espírito de Anders que parece algo completamente auto-destrutivo, ao mesmo tempo em que clama por socorro. Não por acaso sua primeira cena é entrando em um rio com uma enorme pedra no colo. Ao mesmo tempo que parece querer se suicidar, escolhe uma forma impossível de isso acontecer.
Outra simbologia encontra-se na escolha da abertura do filme. Imagens quase estáticas das ruas de Oslo sendo conduzidas por uma narrativa intercalada de uma mulher e um homem falando que se recordam do dia 31 de agosto. Toda a montagem e construção da sequência nos remete diretamente a Hiroshima Meu Amor de Alain Resnais. Uma recordação de um romance que esconde a bomba atômica. Pensando no comparativo disso com a ebulição interna de Anders é bastante significativo.
Uma cena bastante simbólica também é a imediata após a frustrada entrevista de emprego. Anders está sentado em um café e fica ouvindo o seu entorno. Ficamos junto com ele ouvindo pedaços de conversas diversas, com seus pequenos problemas ou frustradas expectativas, sem nos aprofundar em nenhuma. É a sensação de não-pertencimento do mundo construída a partir da observação do outro. Anders não está ali de fato com ninguém. Está perdido em seu próprio problema, distante do outro. Mas começa a vislumbrar o entorno e perceber que não é apenas ele que os tem.
O roteiro vai nos guiando em um suspense quase tolo: conseguirá Anders resistir ao dia fora da clínica sem utilizar drogas? E é impressionante como a gente fica nessa expectativa, torcendo para que ele consiga, ao mesmo tempo em que as circunstâncias vão demonstrando que ele está preso a esse passado para sempre. Sem possibilidades de reconstruir seu próprio mundo. Um homem sem ilusões, sem perspectivas, sem esperanças. De fato, cansado.
Oslo, 31 de agosto é uma construção sensível de um estado depressivo. Mais do que isso, de um drama interno onde o maior antagonista é o próprio protagonista e suas crenças. Ou melhor, descrenças. Em seu segundo filme, Joachim Trier demonstra que o cinema está mesmo no sangue da família Trier.
Oslo, 31 de agosto (Oslo, 31. august, Noruega / 2011)
Direção: Joachim Trier
Roteiro: Joachim Trier e Eskil Vogt
Com: Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Oslo, 31 de agosto
2013-10-22T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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