As Atuações do Oscar 2014
Mais um Oscar, mais uma lista de atores a serem consagrados com a estatueta dourada. O que não quer dizer muita coisa, é verdade. Como todos sabem, há muito de lobby em cada indicação e premiação da Academia que muitas vezes não faz jus a qualidade artística de nada. Mas, como disse no texto Por que esperamos tanto pelo Oscar?, o prêmio se tornou popular. E, bem ou mal, ter uma indicação ou uma premiação traz visibilidade ao filme. E claro, à carreira do ator.
Meryl Streep, por exemplo, ninguém discute que é uma excelente atriz. Mas, o fato dela ser recordista de indicações e ter três estatuetas ajuda. Bradley Cooper, então, pode acrescentar à chamada de filmes como "Se Beber Não Case" o texto: "Com o indicado ao Oscar Bradley Cooper". E Leonardo DiCaprio até hoje espera essa consagração para coroar uma carreira vitoriosa, mas que sempre esbarra neste título.
O que acho mais interessante no caso da premiação de atores, no entanto, é o critério que parece prevalecer nestas categoria. Rafael Carvalho, amigo e crítico aqui de Salvador definiu com um termo curioso: "papel para dar showzinho". Muitas vezes uma interpretação introspectiva que possui um trabalho de ator e construção de personagem incrível passa em branco. É tudo muito relativo.
No caso dos indicados a melhor ator, Matthew McConaughey desponta como favorito, tendo Leonardo DiCaprio no seu calço. Duas ótimas atuações, é verdade. Mas, acho que Chiwetel Ejiofor consegue em 12 Anos de Escravidão uma verdade impressionante para o seu personagem. A dor, o medo, a angústia, a revolta, estão estampadas muitas vezes em seu olhar. Não vi Nebraska ainda, mas, dos quatro, votaria nele. E ainda faço aqui uma ressalva à ausência de Tom Hanks, que, principalmente, no terceiro ato de Capitão Phillips nos entrega uma atuação impressionante.
Mas, não posso deixar de destacar o mérito de Matthew McConaughey, não apenas neste papel como nos últimos filmes que tem feito. É incrível a virada na carreira, os papéis mais intensos e a forma como se tornou um ator respeitável, até em O Lobo de Wall Street ele faz uma pequena, mas fundamental participação. A transformação física para Clube de Compras Dallas também foi um fator a impressionar no geral.
Já a categoria de melhor atriz traz um fato extremamente curioso. Parece ser a mais definida da festa. É quase impossível Cate Blanchett perder essa. Mas, ao mesmo tempo, acho que é o ano com maior número de indicadas merecedoras da estatueta. Sandra Bullock sustenta um filme sozinha, merecendo muito mais aqui do que no ano que, de fato, levou o prêmio. Amy Adams é a melhor atuação de Trapaça, o que não é pouco, já que é um filme que foi indicado em todas as categorias. Judi Dench está impressionante em Philomena. E Meryl Streep consegue proezas incríveis em Álbum de Família.
Muitos falam da atuação over de Streep, como todo o elenco que parece estar um tom acima. Mas, o que me impressionou mesmo foi sua construção corporal, o olhar perdido do viciado em remédios, a introspecção a um mundo próprio em algumas cenas. Assim como Amy Adams se transforma completamente, de menina meiga, vemos uma mulher forte, sensual, com seu falso sotaque inglês e uma atitude completamente diferente dela mesma em Ela, por exemplo.
De qualquer maneira, Cate Blanchett também impressiona por tudo isso. Ela segura um filme sozinha, ela tem momentos de introspecção impressionantes, ela se transforma completamente em prol da personagem em suas diversas fases. Merece o prêmio que já é quase certo.
Nas categorias coadjuvantes, no entanto, é mais complexo. No caso dos atores, eu ficaria entre dois: Barkhad Abdi, de "Capitão Phillips" e Jared Leto, de "Clube de Compras Dallas". Ambos se destacam e constroem uma boa química com seus protagonistas, ajudando na fruição do filme. Um trabalho quase sempre ingrato de ficar à sombra do principal, mas que literalmente rouba a cena.
Confesso que não gosto de Jonah Hill, e acho que Bradley Cooper não merecia nem a indicação aqui. Então, dos demais, Michael Fassbender seria uma terceira escolha interessante, construindo um ser desprezível que parece que adoramos odiar. Até por isso, merece o seu destaque.
Já sobre as atrizes coadjuvantes, acho que em um mundo justo não deveria ter discussões sobre o merecimento de Lupita Nyong'o, ainda que não tenha visto Nebraska, reforço mais uma vez. Julia Roberts consegue manter o nível do duelo com Meryl Streep, mas isto está na categoria dos over. Não a vejo brilhar nas nuanças que citei de sua parceira de cena. Já Jennifer Lawrence é uma ótima atriz, já falei sobre isso aqui. Mas, apesar da diferença das personagens, a sua atuação se destaca pelos mesmos trejeitos do papel que lhe rendeu um Oscar. Não vejo algo além que mereça os prêmios que já levou. De qualquer maneira, é uma forte concorrente.
Mas, Lupita Nyong'o nos passa a dor de sua personagem de uma maneira ímpar. A forma como ela vai se transformando, da menina alegre e disposta para a mulher amargurada é impressionante. Nos emociona e nos dá um nó na garganta naquela cena do abraço final.
De qualquer maneira, todos os vinte atores aqui envolvidos possuem talento. Não precisam do Oscar para dizer isso, basta ver a verdade que passam em cada papel que interpretam. O que vai acontecer no domingo dia 02 de março é apenas mais um capítulo da indústria cultural, que tem seus méritos, mas não é a única coisa que importa.
Todos os indicados:
ATOR
Christian Bale, de "Trapaça"
Bruce Dern, de "Nebraska"
Leonardo DiCaprio, de "O Lobo de Wall Street"
Chiwetel Ejiofor, de "12 Anos de Escravidão"
Matthew McConaughey, de "Clube de Compras Dallas"
ATRIZ
Cate Blanchett, de "Blue Jasmine"
Sandra Bullock, de "Gravidade"
Judi Dench, de "Philomena"
Amy Adams, de "Trapaça"
Meryl Streep, de "Álbum de família"
ATOR COADJUVANTE
Barkhad Abdi, de "Capitão Phillips"
Bradley Cooper, de "Trapaça"
Michael Fassbender, de "12 Anos de Escravidão"
Jared Leto, de "Clube de Compras Dallas"
Jonah Hill, de "O Lobo de Wall Street"
ATRIZ COADJUVANTE
Sally Hawkins, de "Blue Jasmine"
Jennifer Lawrence, de "Trapaça"
Lupita Nyong'o, de "12 Anos de Escravidão"
Julia Roberts, de "Álbum de Família"
June Squibb, de "Nebraska"
Meryl Streep, por exemplo, ninguém discute que é uma excelente atriz. Mas, o fato dela ser recordista de indicações e ter três estatuetas ajuda. Bradley Cooper, então, pode acrescentar à chamada de filmes como "Se Beber Não Case" o texto: "Com o indicado ao Oscar Bradley Cooper". E Leonardo DiCaprio até hoje espera essa consagração para coroar uma carreira vitoriosa, mas que sempre esbarra neste título.
O que acho mais interessante no caso da premiação de atores, no entanto, é o critério que parece prevalecer nestas categoria. Rafael Carvalho, amigo e crítico aqui de Salvador definiu com um termo curioso: "papel para dar showzinho". Muitas vezes uma interpretação introspectiva que possui um trabalho de ator e construção de personagem incrível passa em branco. É tudo muito relativo.
No caso dos indicados a melhor ator, Matthew McConaughey desponta como favorito, tendo Leonardo DiCaprio no seu calço. Duas ótimas atuações, é verdade. Mas, acho que Chiwetel Ejiofor consegue em 12 Anos de Escravidão uma verdade impressionante para o seu personagem. A dor, o medo, a angústia, a revolta, estão estampadas muitas vezes em seu olhar. Não vi Nebraska ainda, mas, dos quatro, votaria nele. E ainda faço aqui uma ressalva à ausência de Tom Hanks, que, principalmente, no terceiro ato de Capitão Phillips nos entrega uma atuação impressionante.
Mas, não posso deixar de destacar o mérito de Matthew McConaughey, não apenas neste papel como nos últimos filmes que tem feito. É incrível a virada na carreira, os papéis mais intensos e a forma como se tornou um ator respeitável, até em O Lobo de Wall Street ele faz uma pequena, mas fundamental participação. A transformação física para Clube de Compras Dallas também foi um fator a impressionar no geral.
Já a categoria de melhor atriz traz um fato extremamente curioso. Parece ser a mais definida da festa. É quase impossível Cate Blanchett perder essa. Mas, ao mesmo tempo, acho que é o ano com maior número de indicadas merecedoras da estatueta. Sandra Bullock sustenta um filme sozinha, merecendo muito mais aqui do que no ano que, de fato, levou o prêmio. Amy Adams é a melhor atuação de Trapaça, o que não é pouco, já que é um filme que foi indicado em todas as categorias. Judi Dench está impressionante em Philomena. E Meryl Streep consegue proezas incríveis em Álbum de Família.
Muitos falam da atuação over de Streep, como todo o elenco que parece estar um tom acima. Mas, o que me impressionou mesmo foi sua construção corporal, o olhar perdido do viciado em remédios, a introspecção a um mundo próprio em algumas cenas. Assim como Amy Adams se transforma completamente, de menina meiga, vemos uma mulher forte, sensual, com seu falso sotaque inglês e uma atitude completamente diferente dela mesma em Ela, por exemplo.
De qualquer maneira, Cate Blanchett também impressiona por tudo isso. Ela segura um filme sozinha, ela tem momentos de introspecção impressionantes, ela se transforma completamente em prol da personagem em suas diversas fases. Merece o prêmio que já é quase certo.
Nas categorias coadjuvantes, no entanto, é mais complexo. No caso dos atores, eu ficaria entre dois: Barkhad Abdi, de "Capitão Phillips" e Jared Leto, de "Clube de Compras Dallas". Ambos se destacam e constroem uma boa química com seus protagonistas, ajudando na fruição do filme. Um trabalho quase sempre ingrato de ficar à sombra do principal, mas que literalmente rouba a cena.
Confesso que não gosto de Jonah Hill, e acho que Bradley Cooper não merecia nem a indicação aqui. Então, dos demais, Michael Fassbender seria uma terceira escolha interessante, construindo um ser desprezível que parece que adoramos odiar. Até por isso, merece o seu destaque.
Já sobre as atrizes coadjuvantes, acho que em um mundo justo não deveria ter discussões sobre o merecimento de Lupita Nyong'o, ainda que não tenha visto Nebraska, reforço mais uma vez. Julia Roberts consegue manter o nível do duelo com Meryl Streep, mas isto está na categoria dos over. Não a vejo brilhar nas nuanças que citei de sua parceira de cena. Já Jennifer Lawrence é uma ótima atriz, já falei sobre isso aqui. Mas, apesar da diferença das personagens, a sua atuação se destaca pelos mesmos trejeitos do papel que lhe rendeu um Oscar. Não vejo algo além que mereça os prêmios que já levou. De qualquer maneira, é uma forte concorrente.
Mas, Lupita Nyong'o nos passa a dor de sua personagem de uma maneira ímpar. A forma como ela vai se transformando, da menina alegre e disposta para a mulher amargurada é impressionante. Nos emociona e nos dá um nó na garganta naquela cena do abraço final.
De qualquer maneira, todos os vinte atores aqui envolvidos possuem talento. Não precisam do Oscar para dizer isso, basta ver a verdade que passam em cada papel que interpretam. O que vai acontecer no domingo dia 02 de março é apenas mais um capítulo da indústria cultural, que tem seus méritos, mas não é a única coisa que importa.
Todos os indicados:
ATOR
Christian Bale, de "Trapaça"
Bruce Dern, de "Nebraska"
Leonardo DiCaprio, de "O Lobo de Wall Street"
Chiwetel Ejiofor, de "12 Anos de Escravidão"
Matthew McConaughey, de "Clube de Compras Dallas"
ATRIZ
Cate Blanchett, de "Blue Jasmine"
Sandra Bullock, de "Gravidade"
Judi Dench, de "Philomena"
Amy Adams, de "Trapaça"
Meryl Streep, de "Álbum de família"
ATOR COADJUVANTE
Barkhad Abdi, de "Capitão Phillips"
Bradley Cooper, de "Trapaça"
Michael Fassbender, de "12 Anos de Escravidão"
Jared Leto, de "Clube de Compras Dallas"
Jonah Hill, de "O Lobo de Wall Street"
ATRIZ COADJUVANTE
Sally Hawkins, de "Blue Jasmine"
Jennifer Lawrence, de "Trapaça"
Lupita Nyong'o, de "12 Anos de Escravidão"
Julia Roberts, de "Álbum de Família"
June Squibb, de "Nebraska"
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Atuações do Oscar 2014
2014-02-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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