Quando Animais Fantásticos e Onde Habitam estreou, a promessa era de uma expansão do universo criado por J.K. Rowling, mostrando as aventuras do pesquisador Newt Scamander pelo mundo em busca de criaturas exóticas. Porém, agora, tudo parece uma desculpa para um prequel saudosista que poderia ter menos digressões, nos dando a sensação de que não precisava de mais três filmes.
Na verdade, Newt Scamander e os seus animais fantásticos são o que menos importam nessa trama. Ainda que alguns apareçam, e Pelúcio continue se destacando com ótimas cenas. O foco aqui é mesmo o bruxo Gellert Grindelwald e sua trajetória de ascensão. Não por acaso, a primeira cena é de sua fuga da Macusa (Congresso Mágico dos EUA), além do título da obra, claro.
Newt Scamander se torna uma espécie de prequel de Harry Potter. Mesmo que tenha desprezo pelos aurores, é a ele que Alvo Dumbledore envia para Paris com a missão de caçar o bruxo das trevas. O retorno de personagens icônicos como ele, professora Minerva McGonagall, mesmo que em curto espaço de tela, já demonstra a busca pelo apelo à memória afetiva do público. A estrutura da trama fica, então, muito próxima das anteriores em uma investigação para descobrir os planos do vilão, embates entre bruxos e algumas revelações bombásticas. Porém, tudo com uma sensação de superficialidade não vista antes. Como uma busca saudosista de reviver situações.
Ainda assim, há magia, literalmente, em tela. A construção da mise-en-scène, com cenários, organização em tela dos elementos e personagens, impacta sempre os nossos olhos em uma mistura mística de direção de arte e efeitos especiais, tornando os cenários ainda mais encantadores. As cenas de batalha e perseguição também são envolventes e a tensão é construída de maneira satisfatória, ainda que o excesso de tramas e situações deixem o espectador um pouco confuso. Mesmo as revelações finais, ainda que impactantes, pareçam tiradas do nada, fazendo mesmo fãs tendo que buscar referências na memória para compreender melhor tudo aquilo. São muitos personagens apresentados, flashbacks, tramas paralelas, segredos e revelações jogados em tela, sem um bom desenvolvimento. O próprio vilão ainda está muito raso, sem motivações trabalhadas. Por mais que ainda existam três filmes, a economia dramática poderia ser melhor distribuída.
De qualquer maneira, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um filme bem feito tecnicamente, com boas atuações e o eterno apelo do universo Harry Potter que encantou e ainda encanta multidões.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018 / Reino Unido / EUA)
Direção: David Yates
Roteiro: J.K. Rowling
Com: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Jude Law, Johnny Depp, Zoë Kravitz
Duração: 134 min.
