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Shirley MacLaine
A Última Palavra
A Última Palavra
Shirley MacLaine é Harriet, uma senhora solitária e controladora que contrata a jovem jornalista Anne para escrever o seu obituário. Não que ela vá morrer em breve, mas como boa controladora, quer saber quais seriam as últimas palavras sobre si e adoraria que fossem bonitas como as que vê Anne escrevendo no jornal. O problema é que não há ninguém para dizer algo de bom sobre Harriet.
O resumo do conflito do filme nos dá um clichê de um melodrama leve, com um estereótipo da megera e da mocinha que vai sofrer em sua mão. Mas o que surpreende em A Última Palavra é exatamente a quebra progressiva das expectativas que acabam nos dando um aprofundamento da própria situação da mulher em uma sociedade patriarcal e machista. A forma como cada uma delas tem que se virar para sobreviver em um mercado de trabalho controlado por homens e suas regras.
Assim, na verdade, é Harriet. Uma mulher extremamente inteligente e, como todas as pessoas inteligentes, com pouca paciência para os outros. Mulher, ela teve que lidar com um mercado de trabalho hostil. Montou sua própria agência de publicidade, onde era diretora criativa, espaço ainda mais masculino. E onde homens não pareciam dispostos a conviver com uma mulher, muito menos obedecer a ela. Mandar, brigar, tornar-se antipática, acaba sendo a única maneira de sobreviver em ambientes assim.
Em contrapartida, Anne é a típica mulher insegura. Incapaz de acreditar em seu próprio potencial, sonhando ser uma grande escritora, mas aceitando resumir-se a área obituária. Meiga, simpática, sempre com medo de desagradar ao outro. Estar com Harriet acaba sendo uma maneira de fazê-la crescer e acreditar em si mesma. Esse talvez seja o ponto alto da obra. A junção de mulheres para se descobrirem e crescerem em convivência mútua. Porque Harriet também cresce com esse encontro.
E ainda temos a pequena Brenda, interpretada por AnnJewel Lee Dixon. A garotinha problemática, com personalidade próxima a Harriet que irá encontrar nas duas mulheres companhia e compreensão. Coisas que nunca tinha encontrado em sua vida. A união das três e as maneiras inusitadas como se divertem são o ponto alto do filme. Como uma bela cena em um lago ou quando dançam em diversas cenas. Nunca o Teste de Bechdel foi tão bem aplicado quanto aqui. Afinal, apesar de uma trama secundária de romance, os homens não são mesmo o foco principal da vida dessas três personagens.
E, claro, ter Shirley MacLaine ajuda qualquer experiência fílmica. A atriz se entrega de maneira plena a essa personagem que vai nos cativando aos poucos. Mesmo irritada, com suas tiradas agressivas ou mania de controle. E quando vamos descascando suas camadas, tudo fica ainda mais fascinante, seja como uma DJ especial, seja dando conselhos para a vida plena que devemos viver, sem medos ou inseguranças. É preciso arriscar sempre.
A Última Palavra é um melodrama leve, com tons cômicos e sua dose de emoção. É gostoso de acompanhar, divertido de ver e ainda tem seus momentos de fazer pensar. Daqueles filmes que merecem ser saboreados em suas diversas camadas.
A Última Palavra (The Last Word, 2017 / EUA)
Direção: Mark Pellington
Roteiro: Stuart Ross Fink
Com: Shirley MacLaine, Amanda Seyfried, AnnJewel Lee Dixon
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Última Palavra
2018-12-19T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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