
Shirley MacLaine é Harriet, uma senhora solitária e controladora que contrata a jovem jornalista Anne para escrever o seu obituário. Não que ela vá morrer em breve, mas como boa controladora, quer saber quais seriam as últimas palavras sobre si e adoraria que fossem bonitas como as que vê Anne escrevendo no jornal. O problema é que não há ninguém para dizer algo de bom sobre Harriet.
O resumo do conflito do filme nos dá um clichê de um melodrama leve, com um estereótipo da megera e da mocinha que vai sofrer em sua mão. Mas o que surpreende em A Última Palavra é exatamente a quebra progressiva das expectativas que acabam nos dando um aprofundamento da própria situação da mulher em uma sociedade patriarcal e machista. A forma como cada uma delas tem que se virar para sobreviver em um mercado de trabalho controlado por homens e suas regras.

Em contrapartida, Anne é a típica mulher insegura. Incapaz de acreditar em seu próprio potencial, sonhando ser uma grande escritora, mas aceitando resumir-se a área obituária. Meiga, simpática, sempre com medo de desagradar ao outro. Estar com Harriet acaba sendo uma maneira de fazê-la crescer e acreditar em si mesma. Esse talvez seja o ponto alto da obra. A junção de mulheres para se descobrirem e crescerem em convivência mútua. Porque Harriet também cresce com esse encontro.

E, claro, ter Shirley MacLaine ajuda qualquer experiência fílmica. A atriz se entrega de maneira plena a essa personagem que vai nos cativando aos poucos. Mesmo irritada, com suas tiradas agressivas ou mania de controle. E quando vamos descascando suas camadas, tudo fica ainda mais fascinante, seja como uma DJ especial, seja dando conselhos para a vida plena que devemos viver, sem medos ou inseguranças. É preciso arriscar sempre.
A Última Palavra é um melodrama leve, com tons cômicos e sua dose de emoção. É gostoso de acompanhar, divertido de ver e ainda tem seus momentos de fazer pensar. Daqueles filmes que merecem ser saboreados em suas diversas camadas.
A Última Palavra (The Last Word, 2017 / EUA)
Direção: Mark Pellington
Roteiro: Stuart Ross Fink
Com: Shirley MacLaine, Amanda Seyfried, AnnJewel Lee Dixon
Duração: 108 min.