“Cinema Preto”: esse foi o grito ecoado na terceira noite do Festival de Brasília. Os dois curtas e longas na competitiva nacional eram dirigidos, protagonizados e produzidos por pessoas pretas, em especial mulheres e trans. Os curtas Calunga Maior (PB), de Thiago Costa, e Sethico (PE), de Wagner Montenegro, e o longa-metragem Rumo (DF), de Bruno Victor e Marcus Azevedo. Os três filmes conversam não apenas pelo protagonismo, mas também pela busca por espaços a partir do histórico de um país racista e preconceituoso em diversos aspectos.
Festival de Brasília - Parte 2
“Cinema Preto”: esse foi o grito ecoado na terceira noite do Festival de Brasília. Os dois curtas e longas na competitiva nacional eram dirigidos, protagonizados e produzidos por pessoas pretas, em especial mulheres e trans. Os curtas Calunga Maior (PB), de Thiago Costa, e Sethico (PE), de Wagner Montenegro, e o longa-metragem Rumo (DF), de Bruno Victor e Marcus Azevedo. Os três filmes conversam não apenas pelo protagonismo, mas também pela busca por espaços a partir do histórico de um país racista e preconceituoso em diversos aspectos.
É um marco, de fato, por trazer à luz pessoas que historicamente ficaram nos bastidores. Tornar sujeitos corpos que costumavam ser objetos. Foi emocionante em diversos níveis testemunhar a ocupação do palco do Cine Brasília por pessoas visivelmente apaixonadas e alegres por terem chegado aonde nem mesmo sonharam poder chegar, como afirmou o cineasta Wagner Montenegro, diretor do curta Sethico de Pernambuco, segundo da noite.
Um dos destaques da noite acabou sendo a homenagem à Edileuza Penha de Souza, professora doutora da Unb. Além do reconhecimento pela importância dela para eles, era seu aniversário e foi emocionante ver o Cine Brasília cantando parabéns para aquela mulher que se dedica a pesquisas na área de cinema, com ênfase no Cinema Negro no Brasil e no Continente Africano desde 2006.
Outro destaque foi a atriz Leni Rabbi, senhora que conseguiu realizar há pouco seu sonho de entrar na faculdade de Artes Cênicas. Em seu discurso de abertura ela falou sobre o momento do país que considerou “doente” e pediu empatia. Reforçando a importância do cinema preto e que o longa Rumo foi feito com amor e muita vontade de mostrar à sociedade que eles são capazes de fazer o que quiserem. “Eu fiz da minha trajetória um palco”, ela finalizou.
A produção de Rumo reforçou que a obra foi construída a princípio na guerrilha, com crowdfunding e que isso não pode ser um costume. A importância de políticas públicas para o audiovisual se faz não apenas para que existam novas linguagens, novas produções e novos olhares, mas também para produção de empregos que ajudam a economia a girar. Ver o palco do Cine Brasília lotado com um grupo em sua maioria negra apresentando um longa-metragem sobre cotas em universidade é um exemplo disso. Aquelas pessoas são profissionais e merecem ser reconhecidas e remuneradas por isso.
Rumo fala sobre cotas para negros em universidades. Uma discussão pertinente, principalmente porque dialoga também com essa busca por espaços. Em uma mistura de linguagens entre ficção e documentário, a obra traz depoimentos fortes sobre essa sensação ruim de ser único estudante negro na Unb, por exemplo, e os diversos preconceitos sofridos pelos cotistas. Mas fala também sobre essa importância da representação e as possibilidades de mudanças, ainda que não esteja perfeito.
Ver essa retrospectiva dos vinte anos de cota nos faz perceber os diversos avanços, mudanças de paradigma e pensamentos. Há muito ainda a mudar, a mexer, como disse Marcus Azevedo no debate, “precisamos agora avançar nessa discussão, pensando também nos professores e nas referências que serão passadas para os novos estudantes”.
Bruno Victor e Marcus Azevedo fizeram história com uma obra potente e forte em construção política, mas também estética. Esse é outro passo que o cinema preto precisa dar agora, não ser mais visto apenas como um nicho e, sim, com diversos olhares, linguagens e possibilidades que vão além apenas do tema. Vontade e talento já demonstraram ter para isso, agora é acompanhar suas trajetórias.

Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Festival de Brasília - Parte 2
2022-11-17T15:00:00-03:00
Amanda Aouad
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