Varda por Agnès
Não é sempre que vemos uma cinebiografia feita pelo próprio diretor retratado, ainda mais com a generosidade e desprendimento com que Agnès Varda se coloca em tela. Quase sempre sentada em frente a uma plateia, a diretora belga fala sobre seus filmes, em uma verdadeira aula de cinema, mas a obra não se resume a isso.
Em As Praias de Agnès, a cineasta resgatou suas lembranças pessoais através das praias que conheceu. O local sempre lhe inspirou, acalmou a fez refletir sobre si e seus trabalhos. Aqui, ela mergulha em suas obras, inclusive neste documentário, construindo um fechamento instigante sobre si mesma.
Tal qual “Hitchcock / Truffaut : entrevistas”, é prazeroso ver uma cineasta com tanto domínio de suas escolha dissecar seus filmes, explicando planos, movimento de câmera, fotografia, intenção de atores e diversas outras questões técnicas que vão se revelando em uma montagem também criativa que muitas vezes é também irônica como quando ela fala do temor dos cinemas vazios e a plateia, antes cheia, fica vazia.
Na verdade, as escolhas de Varda já começam a chamar a atenção no início, quando os créditos surgem em sua totalidade, nos remetendo ao início do cinema, quando era assim e na cartela final vinha apenas o famoso The End. Resgatar esse costume é também valorizar o fazer cinematográfico já que, com exceção dos filmes da Marvel, as plateias costumam se levantar para ir embora quando se iniciam os créditos, não se importando com os nomes que surgem ali.
É também uma escolha de impacto, afinal a maneira como encerra a obra não cabia mesmo mais nada além de uma tela vazia. Tudo fica ainda mais simbólico se pensarmos que a cineasta, de fato, nos deixou esse ano. Por mais que ela declarasse que esse seria seu último filme, vê-lo como um verdadeiro testamento é forte. E belo ao mesmo tempo.
Há beleza em cada fala, em cada frame, daquela senhora rechonchuda e falante, como ela mesmo se define. É divertido ouvir seus relatos de maneira tão espontânea seja sobre fracassos ou sucessos. E o fato de trechos dos filmes virem ilustrando cada passagem só enriquece e nos dá vontade de rever cada obra, observando o que foi explicado, como a cena em que Cléo caminha pela calçada em contraste com a que ela observa um artista de rua em Cléo das 5 às 7.
Por mais filmes de ficção marcantes que tenha feito, Varda demonstrou seu coração de documentarista e terminar a vida assim não deixa de ser uma benção. Documentando a si mesma, sua carreira, seu estilo como cineasta e também como professora dessa instigante Master Class. Há muitos filmes em Varda por Agnès e é maravilhoso poder aproveitar cada um deles.
Varda por Agnès (Varda par Agnès, 2019 / França)
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Duração: 115 min.
Em As Praias de Agnès, a cineasta resgatou suas lembranças pessoais através das praias que conheceu. O local sempre lhe inspirou, acalmou a fez refletir sobre si e seus trabalhos. Aqui, ela mergulha em suas obras, inclusive neste documentário, construindo um fechamento instigante sobre si mesma.
Tal qual “Hitchcock / Truffaut : entrevistas”, é prazeroso ver uma cineasta com tanto domínio de suas escolha dissecar seus filmes, explicando planos, movimento de câmera, fotografia, intenção de atores e diversas outras questões técnicas que vão se revelando em uma montagem também criativa que muitas vezes é também irônica como quando ela fala do temor dos cinemas vazios e a plateia, antes cheia, fica vazia.
Na verdade, as escolhas de Varda já começam a chamar a atenção no início, quando os créditos surgem em sua totalidade, nos remetendo ao início do cinema, quando era assim e na cartela final vinha apenas o famoso The End. Resgatar esse costume é também valorizar o fazer cinematográfico já que, com exceção dos filmes da Marvel, as plateias costumam se levantar para ir embora quando se iniciam os créditos, não se importando com os nomes que surgem ali.
É também uma escolha de impacto, afinal a maneira como encerra a obra não cabia mesmo mais nada além de uma tela vazia. Tudo fica ainda mais simbólico se pensarmos que a cineasta, de fato, nos deixou esse ano. Por mais que ela declarasse que esse seria seu último filme, vê-lo como um verdadeiro testamento é forte. E belo ao mesmo tempo.
Há beleza em cada fala, em cada frame, daquela senhora rechonchuda e falante, como ela mesmo se define. É divertido ouvir seus relatos de maneira tão espontânea seja sobre fracassos ou sucessos. E o fato de trechos dos filmes virem ilustrando cada passagem só enriquece e nos dá vontade de rever cada obra, observando o que foi explicado, como a cena em que Cléo caminha pela calçada em contraste com a que ela observa um artista de rua em Cléo das 5 às 7.
Por mais filmes de ficção marcantes que tenha feito, Varda demonstrou seu coração de documentarista e terminar a vida assim não deixa de ser uma benção. Documentando a si mesma, sua carreira, seu estilo como cineasta e também como professora dessa instigante Master Class. Há muitos filmes em Varda por Agnès e é maravilhoso poder aproveitar cada um deles.
Varda por Agnès (Varda par Agnès, 2019 / França)
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Varda por Agnès
2019-05-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Agnès Varda|cinebiografia|cinema europeu|critica|documentario|
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